O povo da Crimeia adora Vladimir Putin. E Donald Trump.

Por Elena Popina.

Entre a cidade russa Perm, que fica do lado externo dos Urais, e a península da Crimeia, há mais de 2.895 quilômetros de distância. De carro, são mais ou menos 40 horas de viagem.

Destemidos, Sergey e Irina Shvetsov colocaram os dois filhos no banco traseiro de seu Lada — um pequeno carro vermelho-rubi fabricado na Rússia, já desbotado e baqueado — e colocaram o pé na estrada no início do mês passado. Dirigindo dia e noite, atravessaram a grande planície europeia, passaram por Moscou, rumo ao Mar Negro e, por último, cruzaram o estreito de Querche de ferryboat.

Eles foram para lá, disseram, pelo mesmo motivo que milhares de outros russos que estão invadindo a península hoje em dia: ver com os próprios olhos a mais nova aquisição do presidente Vladimir Putin e, é claro, comprar souvenirs baratos que glorificam a anexação realizada em 2014 e zombam do mundo ocidental. Camisetas com os dizeres “A Crimeia é nossa” são extremamente populares. A família Shvetsov comprou três. Ímãs de “Putin, o Libertador” também fazem sucesso. O casal levou uma dúzia.

A Crimeia “precisa de um líder forte”, disse Sergey, 41 anos, magro, olhos azuis, um espesso bigode marrom avermelhado. “E Putin é um líder forte.”

Em grande parte abandonada em mau estado após a queda da União Soviética, duas décadas atrás, a península está passando por uma pequena febre turística, recuperando um pouco da glória que teve como lugar disputado no verão por famílias czaristas do século 19 e, mais tarde, por autoridades soviéticas.

Sergey, após assistir a inúmeros horas de cobertura jornalística sobre a Crimeia na TV estatal, disse ter certeza de que este lugar está destinado a ser “o próximo grande sucesso”. Sim, sim, concordou um morador local, tão grande que acabará concorrendo com a Riviera Francesa. “Largue o que você estiver fazendo, onde quer que você esteja, e venha morar na Crimeia”, exclamou com entusiasmo outro Sergey — Sergey Bespalov.

Recado para Trump

A maioria das pessoas, como Bespalov e Shvetsov, morria de vontade de conversar sobre política. Quando Bespalov tocou no assunto, foi impossível detê-lo enquanto ele recitava opiniões e perguntas, uma depois da outra, disparadamente.

“O que os americanos acham da Crimeia? Estão falando sobre a gente na TV? Entendem que agora esta é uma parte da Rússia? Por que dizem que foi ilegal sermos anexados à Rússia? Quem são eles para dizer o que é legal e o que não é?”

E então ele falou sobre Donald Trump. Assim como Shvetsov, ele queria saber se o homem que chamou Putin de “líder forte” — e indicou que consideraria suspender as sanções — será o próximo presidente dos Estados Unidos. De qualquer maneira, ele pediu para dar um recado para o candidato: “Nós amamos ele. Diga que ele é mais que bem-vindo na Crimeia.”

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