Por Enda Curran e Saleha Mohsin com a colaboração de Jeff Black.
O produto interno bruto é coisa do século passado.
Esse indicador galgou de origens humildes durante a Grande Depressão até uma posição essencial para governos e bancos centrais em todo o mundo. Investidores de longo prazo alocam o capital de acordo com as conclusões do PIB; traders compram e vendem ações, títulos, moedas e commodities em um piscar de olhos assim que esses números aparecem na tela. Um desses relatórios tão atentamente analisados será publicado na sexta-feira, quando os EUA divulgarem sua estimativa revisada do PIB do segundo trimestre.
O problema é que — compilado por produção, receita ou despesas — o PIB está tendo cada vez mais dificuldade para acompanhar o ritmo das mudanças econômicas.
Em uma era em que com US$ 10 pode-se comprar um CD ou um mês de streaming ilimitado de música, está ficando mais difícil colocar um preço na produção econômica. E, por ser um indicador agrupado que ignora os efeitos da distribuição, o PIB mascarou o aumento da desigualdade que provocou o surgimento de políticos contrários ao establishment, como Donald Trump, e a reação que contribuiu para o Brexit.
Então, enquanto governos tanto do mundo desenvolvido quanto dos mercados emergentes se empenham para reproduzir as taxas de crescimento e os saltos de produtividade das décadas anteriores, uma pesquisa mais urgente está sendo realizada para criar um indicador econômico adequado.
“O PIB é fácil de criticar, mas difícil de substituir”, disse Paul Sheard, economista-chefe da S&P Global em Nova York. “Se os governos estão administrando a economia com base nessa métrica, então é válido dizer que precisamos adotar um indicador mais abrangente”.
Essa procura está obrigando a esforços tão díspares quanto os de uma corretora de ações em Mumbai e os de uma conferência estatística em Dresden, na Alemanha. A primeira, Ambit Capital, criou seu próprio índice de consumo com base nas vendas de veículos e no uso de eletricidade como um hedge para os números oficiais de crescimento da Índia. Isso revela um ceticismo evidente em muitos lugares em relação à consistência dos métodos existentes para medir com coerência até mesmo as partes tradicionais da economia e o PIB está sujeito a revisões tão grandes que acaba sendo pouco útil para tomar decisões de investimento imediatas.
Foco errado
Essa preocupação vem acompanhada pela preocupação de que os estatísticos estejam medindo as coisas erradas. Nesta semana, a Associação Internacional de Pesquisa em Receita e Patrimônio se reúne na Alemanha com uma programação dominada por artigos acadêmicos com pesquisas relacionadas à igualdade de renda, à mudança tecnológica e aos padrões de vida — campos que não são facilmente enxergados em medições do PIB.
“Ter o foco somente no PIB ou no crescimento do PIB é enganoso em muitas discussões de política econômica”, escreveu neste mês Olivier Blanchard, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional que atualmente é membro sênior do Instituo Peterson de Economia Internacional. “Os efeitos da distribuição ou as distorções que afetam a composição em vez do tamanho da produção e os efeitos das políticas atuais sobre o futuro, e não da produção atual, podem ser tão importantes para o bem-estar quanto os efeitos sobre o PIB atual”.
Para ter acesso a notícias em tempo real entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.