Claudia Morales do BlackRock: Trabalhar para atrair mais mulheres para as finanças

“Ter essa rede de apoio e que as empresas amparem seus talentos que estão atravessando alguma dificuldade, é fundamental para que se possa seguir e continuar entregando o melhor de si.”

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Claudia Morales

Vice President of Portfolio Consulting for Latin America | BlackRock, Chile

Para atrair mais mulheres para o mercado financeiro, é necessário colocá-las em contato, desde o colégio, com carreiras como Matemática e Economia e explicar as oportunidades que existem nestas áreas. Além disso, é fundamental divulgar as histórias de mulheres bem-sucedidas para que as mais jovens percebam que [vencer no mercado financeiro] é algo factível e bem menos complicado do que parece.

É no que acredita Claudia Morales, VP na BlackRock, uma empresa de gestão de investimentos dos EUA, cuja sede fica em Nova York — para onde Claudia, nascida no Chile, se mudou com a família há três anos.

“Não podemos sonhar com algo que nem sabemos que existe”, ressalta a engenheira civil formada na Universidade do Chile.

Em 2017, ajudou a fundar a organização Mujeres em Finanzas (MEF), com sedes no Chile e na Espanha, cujo foco é incentivar, apoiar e promover a participação de mulheres no setor financeiro, e que é acompanhada por mais de duas mil pessoas por meio de diferentes inciativas. Claudia deseja mostrar a outras mulheres que há oportunidades em todas as áreas do mercado financeiro nas quais podem aplicar sua capacidade e talento.

“Eu venho de um mundo distante do setor financeiro — não tinha contatos nem role models — tampouco uma ideia clara sobre o trabalho de um profissional nesta área. Esse é nosso objetivo na MEF”, resume.

Coleção de inspirações

Ao longo da vida, Claudia compilou o que chama de uma “coleção de inspirações” que a ajudaram a chegar onde está hoje.

Primeira geração de sua família a entrar na universidade, Claudia recorda, “não tínhamos muitos recursos; quando comecei a trabalhar, aos 24 anos de idade, meu salário não era apenas uma renda a mais — era o maior rendimento da minha casa”.

“Então, estudar e ter uma carreira não eram apenas coisas pelas quais eu tinha uma paixão; eram ferramentas que me permitiram alncançar para minha família também. Por isso, foi minha primeira inspiração”.

Já no campo profissional, seu primeiro exemplo veio de María Elena Ovalle, a primeira conselheira do Banco Central de Chile, em quem Claudia se inspirou para se candidatar a uma posição na mesma instituição, na qual trabalhou por cinco anos.

Não me tornei conselheira do Banco Central — quem sabe um dia — mas fui a primeira mulher presidente do sindicato do banco. Sempre pensei que, no setor financeiro, somente aqueles que eram parte da elite galgavam tais posições. Porém, ali estava eu, que embora não viesse daquele mundo, trazia uma consciência social e uma vontade enorme de ajudar os outros. Foi um passo muito importante para mim”, assegura.

Quando se trabalha por um objetivo na vida, todos os sonhos se realizam. “Naquela época, costumava ir para o trabalho no Banco Central de Chile ouvindo rádio e havia um economista que eu admirava muito, por todo seu conhecimento. Quando decidi mudar de emprego, uma amiga encaminhou meu currículo para ele”, conta.

“Eu não fazia ideia que meu currículo havia chegado às mãos dele até receber um e-mail no qual havia um convite para me candidatar a uma posição na instituição. Eu mal pude acreditar! Depois disso, trabalhamos juntos por dez anos. Hoje em dia, continuamos trabalhando na mesma empresa, ainda que em áreas diferentes. Este senhor é ninguém menos que Axel Christensen, Diretor de Estratégia de Investimentos para a América Latina na BlackRock”, revela.

No campo pessoal, Claudia diz que sua filha e seu esposo são seus “motores” e que deixaram, respectivamente, sua escola e seu trabalho no Chile para acompanhá-la na mudança para Nova York e enfrentarem, juntos, os novos desafios envolvidos na empreitada, os quais se acentuaram sobremaneira no contexto da pandemia.

Para Claudia, as conquistas não são responsabilidade de uma única pessoa; sempre precisamos da ajuda dos outros.

O maior desafio próprio, no qual a vida pessoal e a profissional se juntaram, foi a descoberta de um câncer em 2013, que a obrigou a tratamentos constantes, como a quimioterapia. Naquele contexto, o apoio que recebeu foi fundamental.

“O suporte que recebi da empresa e dos colegas de trabalho, que no final das contas são seus amigos e se tornam parte da sua família, foi muito importante. Ter essa rede de apoio e que as empresas amparem seus talentos que estão atravessando alguma dificuldade, é fundamental para que se possa seguir e continuar entregando o melhor de si.”

Poucas mulheres em posições de liderança

Quando começou a trabalhar na BlackRock, Claudia percebeu que era possível articular conexões entre mulheres em posições de liderança que poderiam servir de exemplo a outras mulheres — algo que estava a anos-luz de sua realidade profissional no início da carreira. Mas, ainda há um longo caminho a percorrer.

“Ainda há poucas mulheres no setor financeiro — mais do que quando eu comecei — porém, o número ainda é baixo, especialmente nos níveis de gerência; no Chile de 20%. Já o percentual de mulheres em posições de diretoria não passa de 9%, um percentual de representatividade extremamente baixo”, ressalta.

Na BlackRock, por exemplo, os investidores e fundos de investimento têm ressaltado, cada vez mais, a importância que terão, no futuro, as organizações e portfólios de investimento que levarem em consideração estes princípios, além da rentabilidade.

Aprendendo com as crises

Para Claudia, o acontecimento histórico mais marcante de sua vida profissional foi a crise de 2008, que também alterou sua carreira para sempre.

“A economia era meu único âmbito de atuação, pois vinha do Banco Central do Chile e tinha um mestrado naquela área. Mas, com a crise, tive que me reinventar”, relata.

Assim, passou a ter que entender de temas como Finanças, o que exigiu um esforço extra: “Tive que dar uma guinada de 180 graus; estudar mais sobre a parte financeira e os modelos financeiros, e mesclar conhecimentos de macro e microeconomia com finanças. Mas, foi o que me trouxe até onde estou agora”, assegura.

“Essa crise foi um desafio para todos. Desde a década de 30 não se via uma estagnação econômica e financeira tão profunda; por isso, para mim, foi importante validar meus conhecimentos para ter mais ferramentas disponíveis. Foi um aprendizado profundo, tanto no nível pessoal quanto profissional”.

Claudia conta que, quando estava estudando, pensava que a Economia não tinha qualquer relação com as Finanças, mas ao longo da carreira, descobriu que o mundo é muito vasto. Por certo, quando era pequena, tudo indicava que estudaria algo como Serviço Social ou Direito, mas no colégio se deu conta que tinha mais afinidade com a matemática. Mesmo assim, sua trajetória mostra que nunca abandonou o lado social.

Desafios futuros

Claudia assinala que a mobilidade, a tecnologia e a inovação são os desafios que se apresentam à nova geração de líderes do mercado financeiro, além de temas como sustentabilidade e meio-ambiente.

Além disso, os novos líderes devem ser mais inclusivos e sempre pensar nas pessoas. “Não podem perder de vista o propósito de cada organização, não apenas o financeiro — devemos pensar sempre no bem-estar comum”, recomenda.

Estar bem informado para tomar decisões também é muito importante: “Antes, as pessoas liam o jornal diariamente, mas hoje há muito mais acesso à informação via internet. Por exemplo, tenho acesso à Bloomberg e isso me ajuda a estar muito mais conectada”, relata. “Porém, o mais importante é saber o que fazer com toda essa informação e como articulá-la”.

Por fim, gostaria que seu legado fosse um sistema financeiro mais inclusivo e equânime. “Que todas as pessoas que queiram alcançar posições mais altas, possam fazê-lo”, conclui.

Isenção de opinião: Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg.


A Bloomberg convidou os “<GO> GETTERS” do mercado financeiro na América Latina a compartilhar os insights mais significativos de suas carreiras, descrevendo os sucessos alcançados e os desafios que enfrentaram no percurso, tanto como testemunhas do desenvolvimento deste ambiente acelerado quanto como contribuintes ativos de sua evolução, criando novas ferramentas, compartilhando melhores práticas e inspirando mudanças.

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