Por Daniela Milanese.
A caixa de ferramentas do Banco Central para a estratégia no mercado de câmbio deve ganhar novos componentes quando o estoque de swaps cambiais for zerado. Corte de juros, compra de dólar no mercado à vista e novos leilões de swap reverso podem ser usados para conter uma valorização excessiva do real, dizem analistas consultados pela Bloomberg, caso o ambiente de farta liquidez global permaneça.
Pelo ritmo atual, o estoque de swaps cambiais deve ser zerado até o final do ano, cumprindo assim um objetivo já levantado em algumas oportunidades pelo presidente do BC, Ilan Goldfajn.
O ideal seria que a valorização do real fosse repassada à inflação, permitindo uma queda antecipada ou mais acelerada da Selic, o que reduziria o diferencial de juros e a atratividade do carry trade, segundo economistas.
A taxação de capital, mesmo no atual ambiente de dificuldade fiscal, é vista como menos provável no governo de Michel Temer, embora alguns analistas não descartem a medida, caso necessário.
A manutenção da tendência de alta do real depende do avanço das medidas fiscais no Congresso e da postura do Federal Reserve sobre os juros, o que definiria a continuidade do fluxo aos emergentes.
Corte de juros – Nesse caso, o BC poderia aproveitar a alta do real, o que provocaria queda na inflação, para acelerar a redução da Selic, acredita Francisco Levy, diretor-executivo da UBS Wealth Management.
“O instrumento que teria o maior impacto sobre o câmbio seria a queda dos juros”, disse Mauricio Nakahodo, economista do Mitsubishi UFJ Financial Group, dono do Banco de Tokyo-Mitsubishi UFJ Brasil.
José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, avalia que o BC provavelmente vai esperar a inflação melhorar e os juros caírem antes de partir para outras ferramentas no câmbio, evitando lidar com outros temas ao mesmo tempo.
“Real mais valorizado ajuda a diminuir a inflação e, se tivermos ajuste implementado, no médio prazo a taxa de juros cai e a pressão pode diminuir. A melhor medida é o Brasil fazer logo seu dever de casa e ’normalizar’ os parâmetros de sua economia”, diz Wilber Colmerauer, fundador e diretor-gerente da consultoria EM Funding, em Londres.
Compra à vista – Para Gustavo Rangel, economista-chefe para a América Latina do ING, em Nova York, a queda de juros é o instrumento ideal para impedir que o real se aprecie. No entanto, como isso depende mais da inflação do que da vontade do BC, o provável é que tenha de voltar a comprar dólar no mercado à vista, o que eleva as reservas internacionais.
“Quando o estoque acabar, não deveria acontecer nada, porque o câmbio é flutuante. Para administrar a volatilidade, reserva é o único mecanismo que tem”, disse Flávio Serrano, economista-sênior do Banco Haitong.
Reversos
O padrão dos fluxos vai determinar a atuação do BC, avalia Mauricio Oreng, estrategista-sênior do Rabobank. Caso o país registre elevado fluxo no mercado à vista, um cenário considerado menos provável, pode ser que a autoridade monetária compre dólar à vista, elevando as reservas, disse Oreng.
“Se o mercado adotar for um posicionamento vendido em moeda americana via derivativos, então o BC pode seguir emitindo swaps reversos, já entrando em uma posição comprada líquida em dólar nos swaps. ”
Taxação de capital – A princípio, analistas avaliam que o governo Temer não lançará mão de medidas como o IOF sobre captações externas e compulsório sobre a posição vendida de câmbio dos bancos, já adotadas anteriormente.
“Acho duvidoso, pois você arrecadaria na entrada mas possivelmente pagaria mais juros, já que a participação estrangeira no mercado doméstico, que ajuda reduzir juros ao longo da curva, reduziria”, diz Rangel, do ING.
A não ser que uma apreciação mais forte do real passe a pesar nas contas externas, pondera Levy, do UBS.
“Ninguém exclui nada. Diz que não considera”, diz Gonçalves, do Fator.
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