Rodrigo Velasco do Casa de Bolsa Santander: Aprenda com a vida

“É preciso se conhecer bem, saber no que você é bom de verdade e estar disposto a se dedicar com afinco em tudo que fizer. Tendo isso claro, o restante se ajeitará. Saiba quem você é e construa seu próprio caminho.”

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Rodrigo Velasco

Managing Director, Head Equity Sales & Trading CEO | Casa de Bolsa Santander, Mexico

Rodrigo Velasco começou a trabalhar no Deutsche Bank do México poucos meses antes da eclosão da crise de 2008. “Foi um momento muito marcante, pois foi a primeira vez que presenciei os mercados desabarem na minha frente – parecia que o mundo ia acabar”, recorda.

Porém, aquela situação dramática para os mercados foi um aprendizado importantíssimo para o atual diretor da Casa de Bolsa Santander, que passou a entender melhor o setor financeiro: “A experiência me ajudou a compreender que os mercados são emocionais – e não racionais”, explica.

“Todas as teorias econômicas partem do pressuposto de que os seres humanos reagem de forma racional, o que não é verdade. Somos completamente emocionais, com medos e preocupações – e a maioria das nossas ações está ligada às emoções”.

Na opinião de Velasco, é preciso ter certa frieza no mundo dos investimentos para entender o mercado. As pessoas devem ter disciplina e, acima de tudo, jamais entrar em pânico, pois um momento de euforia pode custar uma carreira – até mesmo dos profissionais mais brilhantes.

“Portanto, para ter sucesso como investidor, é necessário ler mais sobre psicologia ou economia comportamental, e não apenas sobre finanças”, recomenda.

Nem sempre há um manual

Rodrigo já enfrentou muitos desafios profissionais desde o início de sua carreira no Banco do México e, depois, no Deutsche Bank e no Merrill Lynch.

Porém, o maior de todos até agora ocorreu em 2016, quando integrou o grupo que criou a BIVA – a segunda bolsa de valores do México – que entrou em operação em 2018. Rodrigo começou trabalhando como diretor de operações até se tornar o diretor-geral adjunto.

“Foi um projeto importante e complicadíssimo, que exigiu não apenas levantar capital e decidir qual tecnologia utilizar e como utilizá-la, mas também trabalhar ativamente ao lado dos reguladores para criar um novo marco regulatório”, afirma.

Para criar uma nova bolsa de valores – algo que não ocorria no México há décadas – foi necessário mergulhar em artigos acadêmicos e estudar casos de sucesso em outros países. “O mais difícil é que não existe um manual; você precisa avançar um dia de cada vez para concluir um projeto desta magnitude e isso só é possível tendo muita perseverança e um objetivo claro e concreto”, destaca o economista que, se não tivesse abraçado essa carreira, talvez teria  se tornado advogado.

A melhor escola

Rodrigo não tem dúvidas de que considerável parte de sua formação profissional se deve às pessoas com quem trabalhou desde o início de sua carreira. “No começo, o mais importante é ter bons chefes – pessoas com quem você possa aprender e que deleguem responsabilidades para você ganhar experiência. Tive a sorte de ter excelentes chefes”, ressalta.

Rodrigo afirma que a experiência prática do trabalho é a melhor escola, pois permite cometer erros e aprender na vida real.

“Os diplomas, livros e cursos não resolvem os problemas do dia a dia porque, muitas vezes, não temos clareza sobre o objetivo ou a finalidade do que estamos estudando; por isso, é necessário conectar a teoria e os números ao mundo real. Trabalhar é a melhor escola”, enfatiza.

As lições que aprendemos da nossa família também podem ser muito úteis na vida profissional. “Sempre admirei muito meu avô – ele começou do nada, mas conseguiu dar a volta por cima, criar seu próprio caminho e ter sucesso. Foi uma motivação muito forte para mim”, revela.

“No âmbito profissional, sempre apreciei muito Warren Buffett. É um sujeito disciplinado, paciente, que não se deixa levar pelo ego e que aposta a longo prazo quando tem convicção, sem se importar com o que está acontecendo ao redor do mundo”.

Mesmo assim, Rodrigo acredita que admirar uma pessoa não quer dizer copiar sua vida: “Todos somos diferentes e há profissões que eram muito populares há 10 anos e que hoje não são mais. Por isso, é preciso se conhecer bem, saber no que você é bom de verdade e estar disposto a se dedicar com afinco a tudo que fizer. Tendo isso claro, o restante se ajeitará. Saiba quem você é e construa seu próprio caminho”, recomenda.

As máquinas e os seres humanos

Para Rodrigo, as transformações mais importantes que presenciou na área profissional estão relacionadas aos sistemas e à automação. “Quando comecei no mercado financeiro, tudo era manual, mas agora tudo está mais robotizado e voltado aos logaritmos”, ressalta o também aficionado de tênis.

“Mas, o trabalho de questionar e analisar o que dizem os números nunca muda – o que ou por que algo está acontecendo e como isso se encaixa no restante da história – e é desta forma que tento agregar valor para os investidores com os quais converso todos os dias e para a instituição na qual trabalho. É preciso fazer com que os números contem uma história que, no final, envolve pessoas”, reflete.

“A automação não vai destruir nenhum setor, mas irá colaborar para que nos dediquemos a fazer coisas mais criativas”.

Outra mudança que destaca é o tema da diversidade e inclusão nas organizações. “É um assunto importantíssimo porque oferece mais variedade de opiniões, obriga a questionar mais coisas e ajuda a perceber pontos de vista que talvez não eram tão óbvios antes. Felizmente, é um aspecto que tem crescido muito”, afirma.

As experiências sempre podem levar de uma coisa à outra e Rodrigo não descarta a possibilidade de trabalhar em uma instituição pública no futuro, por exemplo, a Secretaria da Fazenda, ou, quem sabe, voltar para o Banco do México. “Eu gostaria de ajudar mais o meu país, que amo muito. Tenho muito orgulho de ser mexicano e viver aqui”.

Isenção de opinião: Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg.


A Bloomberg convidou os “<GO> GETTERS” do mercado financeiro na América Latina a compartilhar os insights mais significativos de suas carreiras, descrevendo os sucessos alcançados e os desafios que enfrentaram no percurso, tanto como testemunhas do desenvolvimento deste ambiente acelerado quanto como contribuintes ativos de sua evolução, criando novas ferramentas, compartilhando melhores práticas e inspirando mudanças.

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