Temer entra em cena e surge um governo paralelo no Brasil

Por Anna Edgerton, com a colaboração de Arnaldo Galvão.

O vice-presidente Michel Temer está traçando planos para formar um governo de transição, enquanto a presidente Dilma Rousseff acentua as acusações de que ele comanda um golpe contra ela.

Com a iminente e crucial votação de impeachment na Câmara dos Deputados programada para domingo, Temer planeja gastar seu capital político inicial em reformas para conter a pior recessão da história moderna do país, segundo um assessor envolvido na elaboração da estratégia. Isso significa reduzir o tamanho do governo e escolher um ministro da Fazenda que implementará o manifesto de seu partido, conservador do ponto de vista fiscal, em caso de impeachment de Dilma, disse a pessoa.

Atualmente dois grupos disputam o poder em um país assolado pela recessão e por escândalos. De um lado, Temer e seus aliados tentam convencer os investidores e o eleitorado de que são confiáveis com o poder nas mãos. Do outro lado está a presidente Dilma e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, que governaram o Brasil nos últimos 13 anos e acusam o lado de Temer de “fraude e conspiração”.
 

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Em meio à piora do humor, a polícia lidará com grupos de manifestantes que chegarão a Brasília neste fim de semana. Para separá-los, foram erguidas barricadas na capital.

‘Golpe em andamento’

“Se havia alguma duvida sobre a minha denúncia de que há um golpe de estado em andamento, não pode haver mais”, disse a presidente a apoiadores, em um evento na terça-feira.

A indignação de Dilma à parte, o time de Temer está confiante de que reunirá apoio suficiente para montar um governo de transição que vai durar até a próxima eleição, em 2018. Em uma entrevista a uma colunista do jornal O Estado de S. Paulo, Temer prometeu diálogo e disse que se o destino o levar para essa função, estará preparado.

O maior parceiro do governo, o Partido Progressista, deixou a base aliada na terça-feira, privando a presidente de votos importantes no Congresso. O impeachment depende do apoio de dois terços dos 513 deputados na Câmara dos Deputados para avançar para o Senado e o assessor disse confiar que a maioria dos parlamentares permanecerá ao lado de Temer até 2018.

“Temer terá um bom começo, o que deverá dar a ele espaço para aprovar uma agenda mínima de reforma”, escreveram analistas da empresa de consultoria política Eurasia em um relatório de 12 de abril. Ele terá uma “lua de mel muito curta”, disseram eles.

Dilma, contudo, não desistirá facilmente. Ela concentrou sua indignação no vice-presidente após o surgimento de uma gravação, na segunda-feira, em que Temer ensaia um discurso para a eventualidade de ela perder a votação na Câmara. Na manhã de terça-feira, ela reuniu sua equipe de assessores mais próximos, incluindo o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, para afiar seu ataque a Temer e ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

Profundamente impopular

Os dois políticos estão comandando o “o gabinete do golpe”, disse ela em um evento no Palácio do Planalto. A ideia de um golpe ganha ressonância no Brasil após 21 anos de ditadura militar, que terminou em 1985, durante a qual Dilma foi presa e torturada por sua participação na resistência armada.

Os inimigos de Dilma têm seus próprios problemas. Cunha, que é do mesmo partido de Temer, se tornou profundamente impopular depois que o Ministério Público Federal disse que ele mantinha contas em bancos suíços recheadas de dinheiro de propinas. Ele nega as acusações. Cardozo, o advogado-geral da União, disse em entrevista, na terça-feira, que a decisão de Cunha de abrir um processo de impeachment contra Dilma, tomada em dezembro, foi uma resposta à investigação do conselho de ética da Câmara contra ele e era o equivalente a “chantagem”. Este é o “pecado original” do esforço de derrubada da presidente, que não tem base legal, disse ele.

Desafio legal

Cardozo, que é o responsável pela defesa de Dilma, disse que o governo ainda analisa quando e se recorreria do impeachment no Supremo Tribunal Federal. Ele disse que está cautelosamente otimista de que a presidente ganhará a votação no domingo.

Se a presidente, de 68 anos, conseguir sobreviver ao processo, sua maior esperança de costurar uma base politica recairá sobre as habilidades políticas de Lula, seu antecessor e mentor, disse Cardozo. Lula, por sua vez, está sendo investigado por corrupção, embora negue irregularidades.

Tudo isso significa que o lado que vencer enfrentará uma batalha difícil para reconquistar a confiança do eleitorado e recolocar a economia nos trilhos. Uma pesquisa do Datafolha publicada na semana passada mostrou que 61 por cento dos brasileiros apoiam o impeachment de Dilma. Temer teve um resultado apenas ligeiramente melhor: 58 por cento querem sua saída.

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