VW precisa do brilho da Tesla, não de seus prejuízos

Por Chris Bryant.

O plano da Volkswagen é ousado e louvável. Em uma tentativa de colocar o escândalo do diesel para trás, a empresa planeja vender 3 milhões de carros elétricos por ano até 2025, cerca de um quarto do total.

Mas o objetivo elétrico também pode deixar um buraco nos lucros da fabricante de veículos alemã — a menos que ela seja capaz de encontrar grandes economias de custo em outras partes. Parece complicado.

O que está em jogo é a lucratividade futura da operação de fabricação de carros da VW. Antes do escândalo das emissões do diesel a unidade gerava 11 bilhões de euros em lucro operacional anual, quase a totalidade dos ganhos da VW.

A VW estima que sua estratégia elevará seu retorno operacional sobre as vendas em até um terço nos próximos oito anos. Mas será mesmo? O analista do Morgan Stanley Harald Hendrikse teme que a venda de tantos veículos elétricos possa, em vez disso, fazer com que a unidade de fabricação de carros da VW se torne deficitária até 2025. Ela voltaria a gerar lucro no fim da década que vem.

As previsões de lucro a longo prazo são sempre imprecisas, reconhece Hendrikse. E particularmente difíceis para os veículos elétricos devido à incerteza em torno dos custos de tecnologia, regulação, concorrência e demanda.

A Tesla ainda perde dinheiro. O CEO da Fiat Chrysler, Sergio Marchionne, implorou que seus clientes não comprassem o elétrico Fiat 500e porque o veículo é extremamente deficitário. Embora a maior parte das fabricantes de veículos não revele os dados financeiros de seus programas elétricos, pode-se presumir que ninguém ganhou dinheiro com eles até o momento.

Os investidores estão nervosos com a transição a curto prazo para os veículos elétricos, por isso as fabricantes de veículos são negociadas a múltiplos tão baixos de lucros futuros. Eles estão certos de estarem particularmente nervosos em relação à VW porque os planos da empresa são bastante ambiciosos — a maioria das rivais não estabeleceu uma meta de vendas a longo prazo para os veículos movidos a bateria.

A mudança para os carros elétricos envolverá grandes despesas. As fábricas e a mão de obra da VW estão quase totalmente focadas na produção de motores à combustão. A empresa precisará se reestruturar e ampliar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, recapacitação de funcionários e reequipagem de fábricas para cumprir sua meta para os veículos elétricos.

Preocupa que a VW planeje usar uma nova arquitetura de veículo especificamente para carros elétricos. Isso sugere que as enormes quantias que a empresa investiu em uma plataforma de compartilhamento de peças para motores à combustão e elétricos não foi muito bem investida. É possível que a VW um dia tenha que realizar a baixa contábil do valor de suas unidades de produção.

A VW conta com algum espaço de manobra. A empresa investe mais em pesquisa e desenvolvimento do que qualquer outra no mundo. Deveria ser possível redirecionar uma fatia maior desse montante para o desenvolvimento de veículos elétricos sem comprometer sua meta de investir menos de 6 por cento das receitas em pesquisa e desenvolvimento, que contrasta com os mais de 7 por cento do ano passado.

A solução para os custos com mão de obra parece mais difícil. A VW tem muitos trabalhadores em relação ao número de carros que comercializa. A situação pode piorar: os motores elétricos têm menos peças e, portanto, é provável que necessitem menos mão de obra do que os motores à combustão. Especula-se o desaparecimento de 2.000 empregos por ano à medida que os baby boomers, ou seja, a geração nascida após a Segunda Guerra Mundial, se aposentem. Demissões compulsórias são praticamente impossíveis na VW devido aos sindicatos, por isso não espere que o número de funcionários caia tão rapidamente.

Mas os custos são apenas uma parte da equação. Os preços também serão importantes. Existe um risco de que a VW ainda canibalize os lucros à medida que alguns clientes passarem de um veículo com motor à combustão de alta margem para um carro elétrico de baixa margem. De forma similar, o preço dos veículos à gasolina e à diesel poderiam cair se os clientes decidirem que o futuro é elétrico e ficarem preocupados com a queda do valor de revenda de seus veículos.

A VW não conseguirá atingir sua meta elétrica sem um grande esforço de venda na China, que responde por mais de um terço de suas vendas de veículos. Mas concorrentes locais como a BYD têm grandes planos para seus modelos elétricos baratos.

Contudo, nem tudo são notícias ruins. Ao acelerar o passo para os veículos totalmente elétricos, a VW não terá que investir tanto na cara tecnologia híbrida, nem fabricar motores à combustão mais eficientes para cumprir regulações de emissões. Por isso, é possível que os carros à gasolina e à diesel gerem mais dinheiro a curto prazo. E, ao longo do tempo, as margens brutas dos veículos elétricos deverão melhorar à medida que os custos das baterias e as economias de escala aumentarem.

A VW promete que seu carro elétrico ID não custará mais do que um Golf comum à diesel quando for à venda, em 2020. O caminho até lá será irregular para investidores e motoristas.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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