‘Dilmexit’ reduz impacto do Brexit no Brasil

Por Josué Leonel e Marisa Castellani, com a colaboração de Aline Oyamada, Paula Sambo e Denyse Godoy.

A primeira reação do mercado brasileiro à decisão do Reino Unido de abandonar a União Europeia é de cautela, mas sem refletir as perdas mais extremas registradas em outros mercados. Entre os fatores que explicariam a relativa tranquilidade estariam a melhora da confiança no Brasil com o governo de Michel Temer e o adiamento nas apostas em alta dos juros americanos.

O dólar subia 1,6%, para R$ 3,3895 às 14:01, após ameaçar uma disparada mais cedo, quando a alta atingiu 3,3%. O real tem o quinto melhor desempenho ante a divisa americana entre as 16 principais moedas globais. O pior desempenho é o da libra britânica, que despenca 7,7%.

A bolsa brasileira também mostra alguma resiliência. O Ibovespa caía 3,4% no mesmo horário, contra baixas de 8% em Paris e mais de 12% em Milão e Madri. As ações europeias são as que mais sofrem após a decisão dos eleitores britânicos ter surpreendido os mercados, que nos últimos dias operaram prioritariamente com a perspectiva de permanência.

A reação amena do mercado de câmbio no Brasil mostra que a melhora das expectativas quanto ao cenário econômico interno supera os receios quanto às consequências da saída do Reino Unido da UE. “O ‘Dilmexit’ vale mais que o Brexit”, diz Leonardo Monoli, sócio e diretor da Jive Asset. Para João Paulo de Gracia, superintendente regional de câmbio da SLW Corretora, a confiança de que o novo governo vai conseguir recuperar a economia explica o desempenho do real.

Alguns analistas ainda mostram alguma cautela com a incerteza para a votação final do impeachment, em agosto. Neste aspecto, porém, a prisão de Paulo Bernardo, ex-ministro de Dilma e Lula, foi visto como um abalo extra na tentativa do PT de reverter os votos no Senado e recuperar o mandato da presidente afastada.

Para definir uma tendência para o dia, o mercado ainda acompanha o desempenho da bolsa de Nova York, que caía 2,7%, em uma hora de sessão. Como sempre, é Wall Street quem dá a palavra final sobre o humor dos investidores. O investidor vai monitorar os desdobramento do Brexit sobre o Reino Unido e a União Europeia, diz Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset Wealth Management. O maior risco, afirma, é o Brexit encorajar uma onda divisionista na Europa. Hoje cedo, a Escócia já manifestou intenção de retomar o referendo para sair do Reino Unido.

Mas o Brexit também tem desdobramentos positivos. Um deles é que o temor de que a economia global perca vigor derrubou as apostas em altas dos juros americanos, o que favorece o fluxo de capital para os mercados emergentes. “O mercado eliminou as apostas em altas este ano e talvez não tenha nenhuma alta em 12 meses”, diz Spyer.
Mike Moran, chefe de pesquisa econômica para as Américas do Standard Chartered Bank, chama atenção ainda para o fato de as relações diretas do Brasil com o Reino Unido, em termos de comércio e investimentos, serem pequenas relativamente a outros países. Segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio, apenas 1,5% do total exportado pelo Brasil vai para o Reino Unido.

Apesar da resiliência mostrada em um primeiro momento, analistas são quase unânimes em mostrar cautela e lembrar que este ainda foi apenas o primeiro round do efeito-Brexit. “Agora, temos que monitorar o desenrolar dos termos das negociações para a saída do Reino Unido. Somos um país emergente, incertezas aumentam e, em cenário de risco, as pessoas evitam emergentes”, diz Camila Abdelmalack, economista da CM Capital.

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