5º Simpósio Corporativo Bloomberg na reta final das eleições

Faltando menos de um mês para o primeiro turno de uma das eleições mais incertas e atribuladas da história do Brasil, a Bloomberg organizou a quinta edição do Simpósio Corporativo no seu escritório em São Paulo. Especialistas em análise política e dos mercados financeiros discutiram as chances dos principais candidatos, a expectativa de governabilidade e implementação de reformas e seus impactos sobre volatilidade e preços dos ativos.

Durante palestra intitulada “Eleições e reformas com uma classe média furiosa”, Christopher Garman, diretor administrativo para as Américas da Eurasia Group, afirmou que o cenário mais provável é que Jair Bolsonaro e Fernando Haddad cheguem ao segundo turno. Para o analista político, o perfil do capitão da reserva atende às principais demandas de um eleitorado desencantado com a classe política, desconfiado da mídia e que expressa desejo por uma grande mudança por meio de um líder forte com passado limpo. Já Haddad deve herdar boa parte dos votos do ex-presidente Lula e será o preferido de eleitores que não veem grande distinção entre os partidos e tinham situação econômica mais fácil quando o PT governava.

A Eurasia Group vê chance um pouco maior de vitória para Bolsonaro (55% contra 45% de Haddad), que terá mais tempo de TV durante a campanha do segundo turno para trabalhar a rejeição de alguns segmentos do eleitorado e explorar os passivos do PT. Na visão de Garman, o atentado em Juiz de Fora cristalizou o apoio ao candidato e adiou os ataques por seus adversários em uma campanha já curta.  Seja Bolsonaro ou Haddad o vitorioso, vai assumir o cargo com altos índices de rejeição e a governabilidade comprometida em um país dividido. “Evidentemente estamos caminhando para um cenário de turbulência”, disse Garman, acrescentando que vê possibilidade menor de Ciro Gomes chegar ao segundo turno em vez do ex-prefeito de São Paulo, e que o caminho para o ex-governador paulista Geraldo Alckmin chegar ao Palácio do Planalto ficou mais estreito.

Apesar das repercussões sobre a governabilidade após a eleição, a Eurasia espera um ajuste fiscal, mesmo sob um governo petista. “Acreditamos que o que está em jogo não é se vamos ter reforma, mas o tamanho e escopo do ajuste que virá em 2019.” Se Haddad prevalecer, é provável um movimento para o centro e flexibilização do programa econômico do partido, enquanto Bolsonaro terá dificuldade para negociar com o Congresso se tentar concretizar promessas de eliminar cargos e verbas.

No mercado financeiro, o quadro é marcado por volatilidade, saída de capitais e expectativa de grande estresse até a eleição, mas a tendência é de recuperação após a votação. “Seja qual for o candidato, se falar que vai fazer alguma reforma, a gente vai ter algum alívio”, disse Roger Oey, especialista sênior em renda variável da Bloomberg. Ele espera que os ativos brasileiros se comportem de maneira parecida com os do México, que se acomodaram após a eleição de um candidato de esquerda rejeitado pelo mercado.

Os ativos brasileiros também tendem a se beneficiar de elementos favoráveis para a retomada da atividade econômica nos próximos dois anos: capacidade ociosa na indústria (que dispensa novos investimentos), disponibilidade de mão de obra e inflação baixa. “É só ter um candidato que arrume as contas do governo — ou não faça uma piora muito grande — que o resto tem condições de andar”, afirmou Oey. O ambiente externo é preocupante para os emergentes, mas administrável contanto que a retirada da liquidez e a alta de juros nas economias desenvolvidas continuem evoluindo de maneira gradual.

Além das incertezas sobre eleições, reformas e perspectiva de recuperação da economia, o mercado financeiro brasileiro também passa por uma transformação estrutural porque inflação alta e juros reais elevados ficaram no passado. Isso provocou a migração de instrumentos tradicionais, como CDB e poupança, para a indústria de fundos.

Com esse movimento, “os fundos ficaram gigantes e não conseguem se adaptar”, disse outro palestrante, o estrategista-chefe da Eleven Financial Research, Adeodato Volpi Netto, alertando que é preciso “entender que a farra do juro alto acabou”.

Segundo ele, a difícil adaptação a uma nova realidade é agravada pela falta de previsibilidade e de viés direcional diante de tantas incertezas. De acordo com o estrategista, em momentos de alto estresse, os gestores tendem a comprar muitos ativos, as carteiras dos fundos ficam extremamente pulverizadas e sua performance acaba não se distinguindo da média. Ele recomenda que os gestores trabalhem a diversificação para que não vire pulverização.  “O óbvio na estratégia de investimentos acabou”, disse Netto.

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