Por Pablo Gonzalez.
O maior fundo latino-americano de investimento com foco exclusivo na região tem um recado: “Se você busca retorno, vá para a América Latina”, disse o gestor Javier Montero, da Moneda Asset Management, em entrevista na sede da firma, em Santiago.
A Moneda, que tem US$ 6,5 bilhões sob gestão em ações e dívidas do México à Argentina, está otimista em relação aos próximos três anos. O motivo é a transição política para uma “abordagem mais favorável ao mercado” observada no Peru, Brasil, Uruguai e Argentina e, em breve, também no Chile, segundo Montero. Isso deixará apenas Equador e Venezuela como importantes economias regionais ainda governadas por partidos de esquerda que rejeitam os mercados.
Após três anos “bem feios” em termos de crescimento econômico, déficit fiscal e depreciação cambial, o gestor acha que “agora estamos vendo que a inflação e os déficits fiscais estão caindo, em um momento em que o crescimento genuíno está retornando”.
Nascido na Argentina, o gestor de 42 anos supervisiona US$ 2,5 bilhões para a Moneda e afirma que a América Latina é uma área de relativa estabilidade que não enfrenta as ameaças de guerra ou ondas de imigração que abalam outros mercados emergentes.
“Entre as três zonas de mercados emergentes, a América Latina supera e continuará superando Ásia e EMEA por causa disso”, afirmou Montero, se referindo à sigla em inglês para Europa, Oriente Médio e África.
Mercados locais
Ele vê oportunidade na depreciação histórica de moedas latino-americanas desde maio de 2013. As moedas de Chile, Brasil, México, Colômbia e Venezuela perderam mais de 25 por cento, enquanto a da Argentina desabou 66 por cento.
“Nos últimos três anos, o investimento nos mercados locais não funcionava porque as moedas se desvalorizaram, corroendo os lucros em dólar, mas agora, sem depreciação, você obtém todo o rendimento”, ele explicou. “Há três grandes oportunidades na América Latina: há valor em instrumentos de alto rendimento, há valor nos mercados de dívida em moeda local e há valor na Argentina.”
Segundo Montero, o fundo está “muito otimista” em relação a instrumentos de dívida emitidos nos mercados locais em toda a região.
Eleições na Argentina
E exposição de Moneda à Argentina não é novidade. O fundo já tinha uma posição antes de Mauricio Macri assumir a presidência, em dezembro de 2015, e continua aumentando essa posição por acreditar que a coalizão de centro-direita vai motivar uma nova compressão nos rendimentos dos títulos e a disparada das ações.
Macri tentará obter mandato para medidas favoráveis ao setor privado quando forem realizadas, em outubro, as eleições ao Congresso que estão afastando alguns investidores. O rendimento dos papéis da Argentina é 1,50 a 2,00 pontos percentuais maior do que no caso do Brasil devido a temores de derrota para a proposta de Macri.
“Muitos investidores acreditam que as eleições poderão trazer a volta das políticas dos Kirchner que governaram por 12 anos”, ele disse. “Não haverá volta das políticas esquerdistas dos Kirchner.”
Essas eleições devem desencadear uma onda de financiamento de projetos de infraestrutura, segundo Montero, especialmente se o governo cumprir a promessa de evitar tributação dupla para fundos fechados.
No Brasil, a Moneda ainda aguarda a reforma da previdência e o desfecho da eleição presidencial no ano que vem.
“O Brasil ainda precisa explicar como vai cortar seu déficit fiscal”, disse Montero.
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