Por Ben Bartenstein e Aline Oyamada.
Se Jason Daw estiver certo, alguns dos maiores investidores do mundo terão uma grande decepção.
O estrategista do Société Générale em Cingapura, um dos poucos que previram a queda dos mercados emergentes que começou em janeiro, não prevê uma recuperação iminente dessa classe de ativos. Ele afirma que a alta modesta das moedas desde setembro, liderada pela lira turca, pelo real e pelo rand sul-africano, é temporária, e que o crescimento global mais lento e novos apertos do Federal Reserve continuarão enfraquecendo as moedas dos países em desenvolvimento.
“Será preciso um processo de vários anos para que o comportamento dos investimentos se adapte às condições menos generosas de liquidez do dólar após uma década de dinheiro fácil”, disse. “O obstáculo para que o capital flua novamente para os mercados emergentes é grande e é necessário um catalisador macro significativo para mudar essa história.”
Daw faz parte de um grupo que nada contra a corrente e que inclui Lisa Chua, gestora de recursos da Man GLG, David Woo, estrategista do Bank of America, e a economista de Harvard Carmen Reinhart. Eles alertam para riscos adicionais para os mercados emergentes, mesmo após nove semanas consecutivas de entradas de recursos nesta classe de ativos. E mantêm uma perspectiva de crescimento mais pessimista em meio à escalada da guerra comercial, à perspectiva de um dólar mais forte e de bolsões de fragilidade na China, no Brasil e na Índia.
Isso ampliaria os problemas de um 2018 já conturbado, dado que as ações dos mercados emergentes entraram em um bear market e todas as moedas importantes do mundo em desenvolvimento perderam valor em relação ao dólar.
A combinação de estímulo por parte da China, fim da guerra comercial entre EUA-China, interrupção do ajuste do Fed devido à inflação e petróleo mais caro poderiam ajudar a desencadear uma recuperação dentro dessa classe de ativos, segundo Daw.
Embora concordem que os mercados emergentes continuarão sob pressão em 2019, os pessimistas estão divididos em relação a qual será a principal fonte de problemas.
À espera do Fed
Daw disse que o momento de mergulhar nos ativos dos mercados emergentes seria quando o Fed começasse a reduzir os juros, o que pode demorar 18 meses.
“Tenho a sensação de que o consenso pende mais para o lado otimista”, disse. “Mantemos a crença de que as moedas dos emergentes podiam se desvalorizar desde o fim do ano passado.”
Ele vê algum valor na Argentina, que liderou a queda das moedas dos mercados emergentes neste ano. O país sul-americano parece mais atraente também para Chua.
O estrategista do Société Générale também recomenda uma posição vendida no real e comprada no peso mexicano, porque a euforia inicial do mercado com a eleição de Jair Bolsonaro está diminuindo.
Pessimismo com comércio
A maior preocupação de Woo é que o governo de Xi Jinping não tenha incentivos para fazer concessões comerciais, especialmente porque Donald Trump é prejudicado por um impasse no Congresso dos EUA. Internamente, as autoridades chinesas precisam conciliar a necessidade de estímulo com o desejo de controlar os preços desenfreados dos imóveis. Woo recomenda posições vendidas na rupia indiana e no peso mexicano, já que a desaceleração na China pesa sobre os ativos de todo o mundo em desenvolvimento.
“Você quer comprar mercados emergentes?”, disse. “Eu não tocaria nos mercados emergentes nem com uma vara de três metros enquanto EUA e China não se resolverem.”
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