Após desvalorização, dívida da BRF começa a ficar atraente

Por Gerson Freitas Jr. e Paula Sambo

Os títulos de dívida da BRF começaram a ficar atraentes para investidores após a desvalorização que se seguiu à pior crise da história da companhia.

Investidores como o Solitaire Aquila afirmam que a queda no preço dos bônus com vencimento em 2024, uma emissão de US$ 750 milhões, foi exagerada e reflete, em parte, a aversão generalizada a papeis de maior risco nos mercados emergentes. Na semana passada, o rendimento dos títulos da BRF atingiu o patamar recorde 7,7 por cento, 1,3 ponto percentual acima da média das demais companhias brasileiras — um prêmio sem precedentes para uma empresa que até pouco tempo atrás figurava entre os créditos de melhor classificação do país.

A BRF vive a expectativa de mudanças após a nomeação de Pedro Parente como presidente executivo. À frente da gigante de alimentos, Parente terá de lidar com desafios que vão do embargo europeu, após o escândalo da Carne Fraca, à imposição de tarifas antidumping pela China, passando pela queda nos preços do frango e uma alta nos custos com ração. O executivo, que já havia sido nomeado presidente do conselho em abril, encerrando meses de conflito entre os principais acionistas, também tem pela frente a tarefa de refinanciar R$ 9,6 bilhões em dívidas com vencimento até 2019.

“Parente pode precisar de alguns trimestres para demonstrar uma melhora, mas ele é muito bom em sinalizar intenções favoráveis ao mercado”, disse Roger Horn, analista sênior de mercados emergentes da SMBC Nikko Securities America. Existem opções limitadas de créditos com semelhante grau de risco e rendimentos acima de 7 por cento, “em particular com potencial de recuperação relativamente bom agora que Parente está totalmente envolvido”, disse.

Além da reputação de Parente, alguns fatores devem ajudar a BRF a se recuperar dos resultados de 2017, que foram os piores de sua história. A empresa provavelmente se beneficiará com a desvalorização do real, uma recente queda nos preços dos grãos e uma recuperação nos preços do frango após a greve dos caminhoneiros, que forçou parte da indústria a cortar sua produção.

A BRF, terceira maior produtora de frangos do mundo, provavelmente venderá ativos que podem incluir a produtora turca de aves Banvit e a argentina Quickfood para levantar dinheiro e quitar parte da dívida, informou a Mizuho Securities USA na semana passada, em nota a clientes. Enquanto isso, a empresa vendeu uma participação no frigorífico Minerva, suspendeu o abate e deu férias coletivas a mais de 5 mil funcionários em algumas de suas plantas a fim de ajustar a produção à demanda mais fraca.

“É hora de começar a acumular esses títulos”, disse Patrik Kauffmann, que ajuda a administrar US$ 11 bilhões em ativos na Solitaire Aquila, em Zurique.

Entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.

Agende uma demo.