Por Richard Weiss e Nicholas Brautlecht.
Uma van básica e quadradona não tem ar-condicionado, nem rádio, nem assento de passageiro e sua velocidade máxima não chega a 80 km/h. Mas o sucesso desse veículo elétrico irritou empresas como Volkswagen.
Como não encontrava uma van de entrega com zero emissão que atendesse suas necessidades, o Deutsche Post comprou uma startup e desenvolveu o veículo. Agora, o maior serviço postal da Europa pode começar a vender esses veículos — chamados StreetScooters — para outras empresas, o que mostra o potencial de disrupção no ágil mercado automotivo.
“Este é um bom exemplo de uma startup que estimula a concorrência no setor e exerce pressão sobre fabricantes consolidadas”, disse Stefan Bratzel, diretor do Centro de Gestão Automotiva da Universidade de Ciências Aplicadas de Bergisch Gladbach, na Alemanha. O verdadeiro teste da incursão do Deutsche Post na fabricação de vans virá quando a VW e a Renault reagirem com melhores ofertas nos próximos anos, disse ele.
Por enquanto, o Deutsche Post está em uma posição invejável, dizendo ter chegado ao ponto de equilíbrio do projeto após apenas 2.500 unidades. A situação contrasta com a de fabricantes de veículos como Tesla e General Motors, que perdem dinheiro com carros elétricos, apesar dos incentivos do governo.
A empresa de correios planeja produzir 10.000 vans elétricas por ano a partir deste ano, o que transformaria a StreetScooter no veículo comercial leve elétrico número 1 da Europa, superando a Kangoo, da Renault, segundo Ian Fletcher, analista da empresa de pesquisas IHS Markit. A companhia poderá ampliar a produção para 15.000 unidades.
Negociações com potenciais clientes de “diversos setores” na Alemanha e no exterior estão em andamento, sendo que um cliente estuda comprar um “número muito, muito grande” de StreetScooters, disse o membro do conselho de gestão da empresa, Jürgen Gerdes. O Deutsche Post fornecerá mais detalhes no início de maio, mas os primeiros indicativos mostram que os planos da empresa vão além da entrega de correspondências.
Em setembro, a companhia com sede em Bonn exibiu uma versão laranja com um virador eletro-hidráulico de três posições que poderia ser adequado para empresas de coleta de lixo e construtoras. A firma alemã também trabalha em uma variação maior com mais espaço para cargas.
O veículo, que ostenta o logotipo do Deutsche Post, uma trombeta, é o símbolo da incapacidade da indústria automotiva europeia para desenvolver soluções rápidas e com bom custo-benefício para reduzir as emissões no mercado de entregas final e de frotas municipais. Cidades como Paris, Nova Délhi e Stuttgart, sede da Daimler e da Porsche, estão proibindo esses veículos a diesel ou adotando outras medidas para reduzir as emissões.
A empresa de correios planeja eletrificar sua frota global de 92.000 vans e já começou a substituí-las para deixar de usar diesel. A empresa praticamente dobrará sua frota alemã de StreetScooter para cerca de 4.000 veículos até o fim do ano, disse Gerdes. Com a melhora da capacidade de bateria, a empresa de correios quer empregar a van também em áreas rurais. O modelo pode trafegar cerca de 80 quilômetros por recarga, aproximadamente metade da autonomia de uma van Kangoo, da Renault.
“Isso é extremamente irritante para mim”, disse o CEO da Volkswagen, Matthias Müller, em agosto passado, ao ser indagado a respeito da StreetScooter. “Eu me pergunto por que o Deutsche Post não trabalhou conosco nisso”, disse ele, acrescentando que a VW ainda tentará participar do negócio.
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