Boa notícia sobre o clima global: adiamos a próxima era do gelo

Por Alex Morales.

O aquecimento global causado pelas emissões de combustíveis fósseis é, segundo os cientistas, o culpado por intensificar tempestades, elevar os níveis do mar e prolongar as estiagens. Agora, há evidências crescentes de um efeito positivo: é possível que tenhamos atrasado a próxima era do gelo em 100.000 anos ou mais.

Por pouco não foram atingidas as condições necessárias para o início de uma nova era do gelo no início da Revolução Industrial, no século 19, escreveram pesquisadores do Instituto de Pesquisas em Impactos Climáticos de Potsdam, perto de Berlim, na revista científica Nature. “Esse estudo é mais uma confirmação de algo que suspeitamos há algum tempo, que o dióxido de carbono que os humanos adicionaram à atmosfera mudará o clima do planeta durante dezenas a centenas de milhares de anos e cancelou a próxima era do gelo”, disse Andrew Watson, professor de Ciências da Terra da Universidade de Exeter, no sudeste da Inglaterra, que não participou da pesquisa. “Agora, os humanos efetivamente controlam o clima do planeta”.

O estudo revela novas descobertas sobre o relacionamento entre a insolação, uma medida da energia solar que chega ao planeta, os níveis de dióxido de carbono na atmosfera e a propagação das camadas de gelo que caracterizam uma era glacial. Os pesquisadores da Alemanha conseguiram usar modelos de computador para replicar os últimos oito ciclos glaciais e fornecer previsões sobre quando o próximo poderia ocorrer.

Os cientistas descobriram que mesmo sem uma maior produção dos gases que retêm o calor a próxima era glacial provavelmente demoraria mais 50.000 anos. Isso tornaria o período atual, chamado de interglacial, “incomumente longo”, segundo o autor principal, Andrey Ganopolski.

“Contudo, nosso estudo também mostra que emissões adicionais antropogênicas relativamente moderadas de CO2 com a queima de petróleo, carvão e gás já são suficientes para adiar a próxima era do gelo por mais 50.000 anos”, o que significaria que a próxima idade glacial provavelmente demoraria mais 100.000 anos, disse ele. “O resultado é que estamos basicamente pulando todo um ciclo glacial, algo sem precedentes”.

Os níveis de CO2 subiram para cerca de 400 partes por milhão atualmente, contra 280 partes por milhão antes da Revolução Industrial. Os autores do último estudo sinalizaram que se a concentração tivesse sido de 240 partes por milhão na época, poderia ter sido desencadeado o início de uma nova era do gelo e as práticas agrícolas anteriores à industrialização podem ter nos salvado de ultrapassar esse limite.

“A tese de que escapamos por pouco do início da era glacial por causas naturais é discutível”, escreveram os pesquisadores. “O que foi proposto é que o uso da terra na era pré-industrial contribuiu pelo menos parcialmente” para o nível de CO2 registrado no século 19.

Evitar uma era glacial é positivo para os humanos, mas os cientistas alertam há três décadas sobre os perigos da mudança climática, que pode ameaçar a própria existência de alguns países, porque o aumento das temperaturas eleva os níveis do mar por meio da expansão térmica e do derretimento das calotas polares. Os enviados de 195 países selaram um novo acordo em Paris no mês passado comprometendo-se a conter o aumento das temperaturas desde o século 19 para menos de 2 graus Celsius e trabalhar por um limite de 1,5 grau.

A última era do gelo durou cerca de 100.000 anos e terminou há cerca de 12.000 anos. As calotas polares do norte se estendiam ao sul até o Reino Unido e a Alemanha na Europa, cobrindo também a maior parte do Canadá e o norte dos EUA. Um período interglacial normalmente duraria entre 20.000 e 30.000 anos, segundo Jonathan Bamber, diretor do Centro de Glaciologia de Bristol da Universidade de Bristol.

“É notável e um pouco assustador pensar que, em um curto espaço de tempo, os humanos foram capazes de modificar o sistema climático de uma forma tão drástica e profunda”, disse Bamber em um comunicado enviado por e-mail.

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