Bonds transmitem os mesmos sinais agourentos em qualquer lugar do mundo

Por Daniel Kruger e Lucy Meakin.

Se você perguntar a qualquer trader de bonds em Tóquio, Londres ou Nova York o que eles acham da economia mundial, é provável que você obtenha respostas parecidas e, sem sombra de dúvida, pessimistas.

Isso não acontece só porque as pessoas que trabalham com renda fixa sejam um grupo melancólico mesmo sob as melhores condições possíveis. Uma análise rápida dos mercados de dívida de governos sugere que os investidores estão precificando a probabilidade de que o crescimento e a inflação no mundo se mantenham mornos durante os próximos anos.

Na Europa, os bonds com yields abaixo de zero cresceram para US$ 1,9 trilhão, e o yield médio dos títulos em um índice de notas soberanas da zona do euro com vencimento em até cinco anos se tornou negativo pela primeira vez. No mundo inteiro, a perspectiva para a inflação do mercado de bonds agora beira níveis vistos por última vez durante a recessão global. E até mesmo nos EUA, o destaque da economia global, os yields sobre os títulos do Tesouro do país com vencimento em dez anos estão fixados perto de 2 por cento – bem abaixo do que a maioria das pessoas em Wall Street antecipava para agora.

“Onde estão os instintos animais para nos recuperar?”, disse Charles Diebel, diretor de taxas em Londres da Aviva Investors, que administra cerca de US$ 377 bilhões. O que se vê no mercado de bonds é “falta de confiança no futuro”.

Risco de deflação

Como o risco de deflação persiste na Europa, a China está cortando as taxas de juros para combater o crescimento, que está perdendo fôlego, e diversos indicadores estão alimentando a preocupação de que a economia dos EUA esteja perdendo impulso, não é difícil entender por que muitos investidores estão pessimistas. Além disso, a demanda persistente pela segurança dos bonds de governos também gera perguntas espinhosas sobre se o Federal Reserve (Fed) deveria elevar as taxas de juros quando os bancos centrais na Europa, na Ásia e em muitos mercados emergentes estão lutando para revigorar suas próprias economias.

Grande parte do impulso tem a ver com as preocupações que teimam em persistir sobre a situação da Europa. Os preços ao consumidor para os 19 países que compartilham o euro estagnaram em outubro após terem caído 0,1 por cento em setembro. Na Alemanha, a maior economia da região, as exportações registraram em agosto a maior queda desde a recessão de 2009, e o número de encomendas às fábricas e a produção fabril declinaram inesperadamente.

A preocupação com que o crescimento medíocre persista não se limita à Europa. Na China, os traders de bonds empurraram os yields a dez anos para 3 por cento pela primeira vez desde 2009, pois o banco central cortou as taxas de juros seis vezes em menos de um ano para estimular um crescimento que será o mais fraco em 25 anos.

Os países mais ricos do mundo também continuam ameaçados por pressões deflacionárias, segundo o FMI, que tem sede em Washington.

Lições do Japão

Os traders de bonds concordam. Eles antecipam que a média de inflação no mundo desenvolvido será de 1,01 por cento nos próximos anos, com base em dados de índices compilados pelo Bank of America Corp. Essa medição quase nunca caiu para um valor mais baixo desde o final da última recessão.

Nesse contexto, um coro cada vez maior diz que talvez o Fed esteja intervindo cedo demais, especialmente depois que os responsáveis pela política econômica sinalizaram que considerariam fazer um ajuste na próxima reunião, que ocorrerá em dezembro. Com base no trading de futuros, a probabilidade de que o Fed eleve as taxas por volta do final do ano é de 50 por cento. O banco central mantém o custo do crédito quase zerado desde 2008.

Entre os que aconselham paciência está Yusuke Ito, da Mizuho Asset Management, que diz que o Fed corre o risco de repetir os erros do Banco do Japão ao tentar deter uma inflação que não existe. Os responsáveis pela política econômica desse país, que lutam contra pressões deflacionárias há duas décadas, elevaram as taxas de juros em 2006 e 2007, mas reverteram o rumo em 2008.

“O crescimento não é forte o suficiente para gerar inflação”, disse Ito, gestor sênior de recursos em Tóquio da Mizuho, que administra US$ 41 bilhões. Se o Fed elevar as taxas, “vai estagnar o crescimento”.

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