Brasil ficará mais barato, tornando-se "mercado chave", diz Newman da Invesco

O real brasileiro precisa enfraquecer de 8 a 10 por cento para ser atraente, diz Sean Newman, gerente sênior de portfólio da Invesco. Jamaica, República Dominicana e Honduras podem ser oportunidades de investimento, diz Newman a repórter Paula Sambo, em entrevista por telefone no dia 1 de fevereiro, em Atlanta, onde ajuda a supervisionar US$ 1,1 bilhão em dívida de mercados emergentes.
 
P: É hora de comprar Brasil?
R:
Nossas maiores participações em tamanho absoluto são no Brasil, México e Colômbia. Mas em relação ao benchmark estamos abaixo da média no Brasil. É muito cedo para voltar ao jogo lá. O Brasil vai ficar mais barato. As condições econômicas estão se deteriorando este ano. Nós estamos vendo um ambiente de crescimento global mais fraco. Temos dados chineses decepcionantes, por isso temos ventos contrários externos, recessão interna, inflação alta. Nós ainda temos uma moeda que não foi totalmente ajustada para o nível que acreditamos que seria compatível com o cenário econômico que acabamos de demonstrar. Além disso, o ambiente político certamente não está chegando a qualquer mudança significativa. O governo está adotando uma economia taylorista. Band-aids não vão corrigir buracos de bala.

P: Qual o preço para começar?
R:
Uma diminuição de 20 por cento no valor da moeda representaria um bom ponto de entrada, e eu não acho que vamos ter um ajuste dessa magnitude. Um ajuste de 8 e 10 por cento representaria um nível atraente, especialmente no lado da moeda.

P: Como você negocia Brasil?
R:
No Brasil nós preferimos manter a exposição à extremidade dianteira de taxas locais. No lado externo, acreditamos que estamos nos aproximando de um ponto de entrada atraente. Os títulos brasileiros de 10 anos estão ficando mais perto de níveis que acreditamos que iria apresentar um bom nível de entrada. O Brasil vai ser um mercado chave, que irá apresentar oportunidades de retorno atraentes, mas precisamos ver o que vai acontecer. Nós não podemos ser sugados para uma armadilha de valor, e nós precisamos ver esforços em torno de reformas estruturais. O novo ministro das Finanças e a presidente estão mencionando as reformas, mas não vimos qualquer uma delas sendo concretizadas.

P: Poderia o Brasil entrar em uma rali como fez quando o presidente Lula assumiu seu primeiro mandato?
R:
Eu não acho que a comparação é bastante justa. A campanha bem-sucedida de Lula foi baseada em uma série de ajustes macro, que ele implementou depois de ser eleito. Eu não tenho a certeza que os ajustes políticos estariam aqui para fazer com que os ativos obtivessem esse nível de desempenho. Impeachment, talvez? O mercado parece estar colocando um monte de probabilidade neste momento sobre o impeachment. Impeachment seria certamente um catalisador, se fosse concretizado.

P: O que pode surpreender os investidores de forma positiva?
R:
Nós estamos sendo muito construtivos sobre o México. O crescimento deverá recuperar ligeiramente este ano e o déficit fiscal deve estar em níveis administráveis. O México é o melhor posicionado para se beneficiar da recuperação continental, bem como a recuperação dos EUA. O peso melhorou a competitividade das exportações do país em relação aos seus parceiros comerciais. No México, preferimos instrumentos locais – o peso, instrumentos da dívida interna, instrumentos soberanos denominados em dólares.

P: Você espera um default do Equador?
R:
Semelhante a Venezuela, o Equador é mais dependente das receitas do petróleo. O risco de inadimplência ainda é elevado lá. Eles estão lutando para obter financiamento da China, a fim de fechar o equilíbrio fiscal. O país precisa de medidas fiscais drásticas a fim de obter suas necessidades de financiamento externos. Os bonds refletem os desafios dentro da economia e um norte de trade de 14 por cento. A curva de rendimento é invertida, o que sugere que há muita preocupação sobre a capacidade do país de pagar.

P: Qual é a sua perspectiva para a Colômbia?
R:
A Colômbia é um bom país em um ambiente de commodities ruim. Se você olhar para o Ministério das Finanças, o Banco Central, eles estão perseguindo políticas muito ortodoxas. O governo provavelmente terá sucesso na redução das despesas em cerca de 1 por cento do PIB. A economia também está lutando com inflação alta.

P: Chile é ainda um refúgio seguro?
R:
O Chile é provavelmente um dos melhores posicionados para enfrentar a tempestade das commodities, pelo menos no lado do crédito. Temos uma visão neutra sobre os títulos em dólar externos chilenos. Em câmbio local temos uma visão um pouco menos construtiva, dada a incerteza do que vemos no ambiente de preço do cobre e alta correlação com ativos chilenos. A perspectiva do preço do cobre permanecerá desafiando este ano.

P: O que mais você está olhando?
R:
Não é uma única economia, mas economias muito diferenciadas na região. Assim, mesmo dentro da AL você encontra algumas oportunidades atraentes que não estão no mainstream. Nós acreditamos que há países que vão beneficiar deste ambiente de queda no preço das commodities. Na América Central e no Caribe, Jamaica, Honduras e República Dominicana estão bem posicionados para se beneficiar. A maioria de suas importações são de petróleo, no qual os preços baixos devem beneficiar.
 

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