Carnaval da crise corta importados e recicla fantasia

Por Sabrina Valle e Jonathan Levin.

Penas de faisão das fantasias do ano passado estão sendo tingidas e reutilizadas. Cristais Swarovski estão fora, pedras mais baratas entram no lugar. Tintas, lantejoulas e tecidos importados foram substituídos por imitações locais.

O carnaval do Brasil, uma catarse de quatro dias reverenciada como a festa anual mais quente do mundo, está sofrendo um nítido rebaixamento neste ano quando o país enfrenta o que pode ser sua mais profunda recessão em um século. Menos da metade das escolas de samba do Rio de Janeiro que vão desfilar conseguiu patrocínio de empresas que chegam a ser responsáveis por metade de seus orçamentos, de acordo com a Liesa, a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. A Petrobras diz que cortou em 80 por cento seu orçamento para o carnaval.

“Este é o carnaval da crise”, disse Rita Fernandes, líder da Sebastiana, liga que administra 12 blocos de rua do Rio e que também perdeu alguns de seus patrocinadores.

Cerca de uma década atrás, quando o mercado de petróleo explodia e o Brasil estava decolando, empresas dispostas a gastar com extravagância eram convidadas de honra do carnaval. As minúsculas fantasias de rainha de bateria começaram a custar mais de US$ 10 mil a peça; as alegorias chegaram a cinco andares.

Mas no carnaval deste ano, as empresas cortaram muito mais. Muitas desistiram dos camarotes VIPs com mesas de massagem em que famosos como Madonna e Will Smith assistiram aos desfiles. A Coca-Cola confirmou que está entre as que deixaram o evento.

“Custa caro produzir e decorar um camarote e algumas empresas acham mais conveniente comprar alguns ingressos e distribuir entre os clientes”, disse Alexis de Vaulx, diretor da Global Marketing e Eventos, que controla uma área VIP de 1.000 metros quadrados para executivos. Nessa área servem Veuve Clicquot aos convidados, que também recebem tratamentos de spa.

Neste ano, sua empresa vendeu ingressos especiais por cerca de R$ 5 mil (US$ 1.250) para 35 empresas, que deram a clientes.

A prefeitura do Rio de Janeiro está tentando compensar parcialmente a perda dos patrocínios dobrando seu financiamento, aumentando o montante que dá para cada escola de samba para R$ 2 milhões. Os direitos de transmissão de televisão, ingressos e venda de CDs arrecadam mais R$ 4 milhões.

Pode custar até R$ 13 milhões para fazer um show incrível, disse Décio Bastos, diretor da comissão de Carnaval da Vila Isabel, escola que ganhou o campeonato há uma década com financiamento da venezuelana PDVSA e em 2013 com patrocínio da Basf.

“Nós temos zero neste ano”, disse Bastos, sobre patrocínio privado.

As crises no Brasil – recessão, corrupção e o vírus zika – são tão implacáveis que são temas de mais de 100 marchinhas de carnaval neste ano. Um deles menciona o japonês da Federal, oficial da polícia que se tornou popular após ser visto escoltando para a prisão executivos de algumas das maiores empresas do Brasil, incluindo a Petrobras.

O clima pode ser de escassez e problemas, mas os foliões se recusam a desistir.

“Primeiro corta-se o segundo carro de som, depois os chapéus da bateria”, disse Fernandes. “Mas o carnaval sempre vai acontecer”.

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