Por Vinícius Andrade.
A inflação dá sinais de que pode encerrar 2018 mais perto de 3% do que de 4%, de acordo com a maior parte dos analistas consultados pela Bloomberg. As surpresas favoráveis do IPCA nos dois primeiros meses do ano, que pintaram um quadro de núcleos comportados e de recuperação abaixo do esperado dos preços de alimentos, levaram diversas casas a revisar as suas projeções para o número fechado do ano. O risco de a inflação ficar abaixo do piso da meta pelo 2º ano seguido aumentou, enquanto o viés baixista para a projeção de inflação de 2019 tem sido reforçado.
“Os dois primeiros meses do ano mostram que aquele repique da inflação de dezembro não foi um começo de tendência e sugerem que há um cenário benigno para a inflação. O risco de uma segunda carta do BC aumentou”, diz João Pedro Ribeiro, estrategista da Nomura, em entrevista por telefone. Recentemente, a Nomura revisou a projeção para inflação de 2018 de 3,8% para 3,4%.
Após a surpresa baixista do IPCA de janeiro, o dado de fevereiro divulgado na última sexta-feira veio em linha com as expectativas, mas foi o mais baixo para o mês desde 2000, segundo o IBGE. “O conteúdo continua muito animador”, diz José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. Para Gonçalves, o viés para a inflação do ano que vem continua sendo de queda adicional.
Segundo a pesquisa Focus, previsões para IPCA no final deste ano baixaram de 3,70% para 3,67%. No grupo Top5 de curto prazo, as estimativas baixaram de 3,67% para 3,54% no fim de 2018.
Assim, o cenário de inflação benigna pode corroborar a perspectiva de juros ainda mais baixos. Enquanto o cenário básico do mercado já migrou para um corte em 0,25 ponto percentual da taxa Selic na reunião de março do Copom, a continuidade de surpresas para baixo da inflação corrente pode alimentar as apostas em queda também no encontro de maio do Comitê. A probabilidade implícita na curva de juros de um corte de 0,25 pp em março está em torno de 80%, enquanto, para maio, as apostas marginais em redução seguem preservadas.
“Se a atividade continuar fraca e isso fizer com que a inflação continue recuando e, mais importante, que essa fraqueza da inflação contamine as expectativas para os próximos anos, o BC pode voltar a cortar após março”, diz Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos. Surpresas adicionais baixistas da inflação e recuo das projeções são condições necessárias para juro ir abaixo de 6,5%, diz Ribeiro, da Nomura.
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