Por Katherine Greifeld e Andrea Wong.
As apostas do mercado financeiro na retomada da economia por meio de medidas governamentais podem ter esfriado nos EUA, mas a jogada simplesmente cruzou o Oceano Atlântico.
Em vez de apostar no dólar e na aceleração do crescimento nos EUA, os investidores de câmbio estão reconhecendo que talvez o período áureo da moeda americana tenha ficado para trás após três anos de força impressionante. Cada vez mais, os investidores enxergam a possibilidade de o euro tomar o lugar do dólar neste mercado que movimenta US$ 5,1 trilhões.
À primeira vista, o euro não parece capaz de entregar desempenho superior. A taxa básica de juros na região é negativa e o Banco Central Europeu compra títulos todo mês para sustentar os preços dos ativos e a economia. Mas com a diminuição dos riscos políticos, a recuperação da atividade e a perspectiva de retirada do afrouxamento quantitativo no horizonte (da mesma forma que se esperava para os EUA em 2014), o euro pode iniciar uma fase de apreciação de vários anos, como ocorreu com o dólar.
“Houve uma virada completa quando se pensa no otimismo total desde a eleição nos EUA, quando todo mundo estava otimista em relação ao dólar, otimista em relação à situação política e otimista em relação ao ciclo” econômico, disse David Bloom, estrategista-chefe de câmbio do HSBC Holdings, em entrevista à Bloomberg Television. “Hoje esta é a atitude da Europa e não dos EUA.”
O HSBC não é o único com essa visão. Neste trimestre, os investidores têm mostrado grande preferência pelo euro, que se valorizou em relação a praticamente todas as moedas importantes, o que não ocorria desde 2013. Já o dólar recuou em relação à maioria.
Analistas sondados pela Bloomberg estão ajustando suas projeções para acompanhar o avanço do euro neste ano. A moeda única já se apreciou 5,9 por cento desde o início de 2017, após um tombo de 6,4 por cento no último trimestre do ano passado, quando o tom era dado pela confiança nas promessas de medidas pró-crescimento do presidente americano Donald Trump.
“Algo similar poderia acontecer com o euro”, disse Thomas Flury, chefe de pesquisa de câmbio do UBS Wealth Management, em Zurique. “Particularmente quando o BCE for pressionado a encerrar o afrouxamento quantitativo porque a economia está forte demais agora, quando se trata do superávit comercial da indústria e do sentimento dos consumidores para justificar uma extensão do programa.”
Trajetórias divergentes
Por ser o par de moedas mais negociado do mundo, a aposta na alta do euro em relação ao dólar pode parecer óbvia. Mas talvez os investidores ganhem mais apostando na relação de troca entre euro e iene, outra moeda também limitada pelas taxas de juros negativas.
O euro se valorizou 7,6 por cento em relação ao iene nos últimos dois meses, um avanço maior do que o registrado por qualquer moeda importante em relação ao dólar. No mês passado, o ritmo de ajuste das estimativas dos analistas para a taxa de câmbio entre euro e iene no final do ano foi o mais rápido que já se viu. O fato de o Banco de Japão não ter mencionado o cronograma de retirada dos estímulos na semana passada empurrou a taxa de câmbio para o maior nível em 14 meses.
“Há menos espaço para ganhos com dólar-iene do que com euro-iene”, disse Kit Juckes, estrategista de renda fixa do Société Générale. “O euro tem sido contido pelas políticas agressivas do BCE e, ao passo que o foco migra lentamente para a normalização, vai haver um salto assim que a porta se abrir.”
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