Citic vê Brasil como motor de crescimento após acordo com Dow

Por Tatiana Freitas.

O Citic Agri Fund, um veículo de investimento criado pelo maior conglomerado da China, escolheu o Brasil como plataforma para sua estratégia agrícola global.

O fundo da Citic concluiu a aquisição dos ativos de sementes de milho no Brasil da Dow Chemical no início do mês em um acordo de US$ 1,1 bilhão. Outros US$ 2,5 bilhões estão disponíveis para novos investimentos em pesquisas ou aquisições de outras empresas agrícolas com perfis que correspondam à estratégia do fundo, incluindo negócios em soja e arroz, segundo Vitor Cunha, gerente-geral da LP Sementes, a nova empresa criada a partir do acordo com a Dow.

“A Citic está começando a se transformar em uma empresa global e o Brasil será o gestor dessa estratégia”, disse Cunha, em entrevista por telefone, de Ribeirão Preto, São Paulo. “Os chineses pretendem expandir seu negócio agrícola a partir do Brasil.”

A decisão de transformar o Brasil no principal motor do crescimento agrícola global da Citic decorre da compra do negócio de milho da Dow no país. Os ativos adquiridos proporcionam à Citic um conhecimento mais profundo sobre o mercado de sementes de milho, disse Cunha. A LP Sementes é a terceira maior fornecedora brasileira de sementes, com quase 20 por cento de participação de mercado. A Yuan Longping High-tech Agriculture, empresa responsável pela gestão dos ativos de milho da Citic no Brasil, é a maior empresa de sementes de arroz do mundo.

A LP Sementes planeja oferecer uma nova marca de sementes de milho para substituir a marca Dow em abril de 2018 para plantio durante a safra 2018-2019. A empresa tem o direito de usar a marca Dow nos próximos 12 meses. A estratégia de vendas da empresa, com foco em cooperativas e varejistas não será alterada, disse Cunha.

“Continuamos empenhados em crescer acima da média do mercado”, ele acrescentou, lembrando que as vendas de sementes de milho no país vêm aumentando de 3% a 5% nos últimos anos, puxadas pela expansão do plantio de milho safrinha.

Expansão dos negócios

Embora não seja esperada nenhuma mudança significativa no planejamento e administração da empresa após a aquisição, Cunha, que também foi gerente-geral da antiga unidade da Dow, disse que a LP Sementes planeja tentar expandir a genética de suas sementes para outros países da América do Sul e para a África.

“A China está tentando ampliar parcerias com este acordo no Brasil. Não vemos isso como uma ruptura ou perda de soberania do Brasil para a China”, disse Cunha, ao ser questionado a respeito de um tuíte sobre o acordo Citic-Dow publicado em 10 de dezembro por Jair Bolsonaro, um dos principais candidatos da eleição presidencial do Brasil. Bolsonaro argumentou que o negócio representa uma ameaça à segurança alimentar do Brasil porque entrega à China quase 20 por cento do mercado de sementes de milho do país.

É possível que Bolsonaro não tenha “informações adequadas” sobre o negócio, disse Cunha. “Se exportarmos genética para a África ou a Ásia, uma empresa brasileira receberá os royalties.”

A Dow vendeu seus ativos de sementes de milho no Brasil para acalmar preocupações antitruste antes da fusão com a DuPont.

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