Por Marco Maciel.
A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode atrapalhar a sua candidatura às eleições presidenciais do ano que vem, afetando a corrida presidencial como um todo ao permitir a ascensão dos chamados “candidatos-surpresa”.
Lula, que foi condenado a nove anos e meio de prisão por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, vai apelar quanto a decisão junto ao RTF4. Se a condenação for mantida (o veredito deve sair em agosto de 2018), Lula não poderá se candidatar. Mesmo se a condenação for revertida pelo RTF4, a chance dele vencer a corrida presidencial de 2018 cairia significativamente por causa da rápida elevação da taxa de rejeição a sua candidatura.
Esses dois desfechos prováveis ou a ausência de líderes políticos tradicionais favorecem o surgimento e fortalecimento de candidatos menos óbvios à corrida presidencial. Segundo pesquisas de opinião pública conduzidas pelo Datafolha, é a primeira vez desde 1997 em que o presidente no cargo não concorre à reeleição, não havendo candidato algum com mais de 30% dos votos a pouco mais de um ano da eleição. Esse quadro lembra 1989, quando foi eleito Fernando Collor de Mello.
Uma pesquisa do Datafolha realizada antes da condenação de Lula mostrava o ex-presidente na liderança para 2018, com 30% das intenções de voto. A parcela do eleitorado de 20%-30% geralmente associada a Lula reflete os laços entre o PT e movimentos sociais e institucionais de esquerda, além de seu carisma pessoal. Por outro lado, a rejeição a sua candidatura chegou a 47%, a mais alta desde 1994 no ano anterior ao pleito presidencial.
Pesquisas de intenção de voto para presidente (não incluem votos nulos e indecisos)
Votos em Lula, rejeição a Lula (% do total)
O segundo gráfico mostra a simetria entre o apoio popular a Lula e a rejeição a ele. Isso sugere que um aumento na taxa de rejeição para mais de 50% pode reduzir as intenções de voto em sua candidatura para menos de 25%. Para quem iriam os votos correspondentes ao aumento da rejeição? Os dois gráficos abaixo sugerem que se dividiriam entre outros (importantes) nomes da pesquisa Datafolha e entre nulos e indecisos.
Votos para outros potenciais candidatos, rejeição a Lula (% do total)
Votos nulos e indecisos, rejeição a Lula (% do total)
No entanto, se a parcela de eleitores fiéis ao PT e a Lula se mantiver em pelo menos 20%, a taxa de rejeição de 50% não resultaria em migração significativa para outros candidatos de esquerda ou centro-esquerda. Para verificar isso, a BI Economics estimou funções de reação dos “votos em Lula”, “votos em outros candidatos importantes” e “votos nulos/eleitores indecisos” para uma variação de 1 desvio padrão (igual a 10%) na “rejeição à candidatura Lula”. Como esperado, elevações na rejeição a Lula reduzem significativamente as intenções de voto em sua candidatura e se transformam em votos nulos ou eleitores indecisos. A função-reação dos “votos em outros candidatos importantes” é relativamente baixa.
Reações a variações na rejeição à candidatura de Lula
Esse desfecho provável favorece a ascensão de candidatos não-óbvios ou surpresa na eleição presidencial do ano que vem, de forma semelhante ao que aconteceu em 1989, quando Fernando Collor de Mello foi eleito. Além disso, a função de reação à candidatura de Lula implica que um aumento na taxa de rejeição para mais de 50% poderia reduzir as intenções de voto em sua candidatura para menos de 25%, ampliando o grau de incerteza em relação à corrida presidencial de 2018.
Tabela de projeções – BI Economics Brasil