Por Natasha Doff.
Investidores que tentam prever a trajetória dos juros reais nos mercados emergentes podem ter mais sorte se pesquisarem dados sobre as taxas de fertilidade.
Um relatório publicado pela Renaissance Capital na quarta-feira revelou que países onde as famílias têm menos filhos provavelmente terão depósitos bancários mais altos, o que, por sua vez, tipicamente reduz as taxas de juros reais e o risco de inadimplência.
“Quando as famílias têm menos filhos, elas tendem a poupar mais porque não podem mais confiar nos filhos para proverem suas pensões”, escreveram analistas liderados por Charlie Robertson. “Achamos que isso explica a correlação surpreendentemente alta entre taxas de fertilidade e depósitos bancários em relação ao PIB – uma correlação existente na década de 1990, bem como hoje – e em muitos países.”
Um bom exemplo da teoria na prática é a China, onde mais da metade do aumento da poupança das famílias desde a década de 1970 pode ser atribuído à política do filho único, de acordo com o relatório. Essa poupança, por sua vez, contribuiu para um grande salto dos depósitos bancários e para a queda dos juros.
Com base nas descobertas, a taxa de juro real no Egito, Gana, Quênia, Paquistão e Zimbábue poderia cair pela metade na próxima década, em linha com os menores níveis de fertilidade, segundo os analistas. Países como Marrocos, Índia e Filipinas já estão na trajetória certa.
O juro real no Brasil, segundo o modelo, deve cair para zero em relação à taxa de 4% dos últimos anos.
“Por outro lado, as previsões de fertilidade sugerem que Nigéria, Tanzânia, Angola e Costa do Marfim continuarão a ter as taxas de juros reais mais altas do mundo até 2050, porque é improvável que os depósitos bancários deem um salto”, escreveram os analistas. “Isso afetará o investimento e o crescimento a longo prazo.”