Por Felipe Saturnino.
O Banco Central deverá optar por manter a Selic em 6,5% pela 4ª vez consecutiva na reunião do Copom da próxima quarta-feira, mesmo após a forte valorização do dólar e do prêmio de risco embutido na curva de juros. Com as expectativas de inflação estáveis, a avaliação é a de que o BC não teria motivação para mexer na taxa no meio do processo eleitoral. Não há consenso, entretanto, sobre eventual mudança no comunicado para um tom mais hawkish.
“Expectativas de inflação não se alteraram muito, nível de atividade ainda está fraco, tem eleição no meio”, disse Marco Oviedo, chefe de pesquisa econômica para América Latina do Barclays. Por essas razões, diz ele, um BC em modo espera ainda é justificado.
A incerteza eleitoral fez o dólar superar R$ 4,21 na máxima intra-diária em 30 de agosto e fechar em patamar recorde na semana passada. Enquanto isso, a curva do DI precifica mais de 120 pontos-base de alta nos juros para as últimas três reuniões do Copom do ano, incorporando um cenário político mais adverso. Emergentes como Rússia e Turquia partiram para a alta de juros em meio a ambiente externo menos favorável.
Para Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, as expectativas de inflação para 2018 e para os anos seguintes permaneceram relativamente estáveis desde o último Copom, sem sinais de desancoragem em horizontes mais longos. Por isso, o comitê deve continuar a se abster quanto a sinalizações mais diretas sobre seus próximos passos para preservar uma flexibilidade em um contexto de incerteza.
Pelo aumento de volatilidade, é possível que o Copom destaque que a continuidade de reformas “afeta as expectativas e as projeções macroeconômicas correntes e pode, por conseguinte, impactar a condução da política monetária”, escreveu Mesquita em relatório na semana passada.
O IPCA de agosto trouxe uma deflação de 0,09% na comparação mensal, ante a estimativa de estabilidade. De acordo a última pesquisa Focus, os agentes do mercado veem inflação de 4,09% para este ano e 4,11% para 2019, abaixo da meta. As previsões do PIB para este ano, por sua vez, têm sido revisadas para baixo e agora o mercado espera um crescimento de 1,36%.
Comunicado
O Banco Central deixou de sinalizar seus próximos passos, em meio ao ambiente incerto. A autoridade vem repetindo a frase de que “não há relação mecânica entre choques recentes e a política monetária”. Agora, a questão é saber se o BC irá ponderar sobre a piora no balanço de riscos.
“BC não vai se comprometer com uma posição no comunicado, mas vai ter de ser um pouco mais vocal”, afirma Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos. Segundo ele, o Copom deverá se pronunciar sobre seus modelos de inflação em face de taxa de câmbio mais depreciada.
Projeções da última reunião do comitê eram de inflação de 4,2% para 2018, com o dólar a R$ 3,70 no final do ano e juros a 6,5%.
“BC deve ponderar que o balanço de riscos ficou mais negativo”, diz Silvia Matos, economista da FGV. Para ela, os aumentos de juros na Turquia e na Rússia não deverão influenciar o Copom a decidir por iniciar agora o aperto monetário. “Aumentar juros depende da credibilidade de cada país. Teve emergente subindo por erros de política econômica, por muita espera, como foi a Argentina”, disse.
Para Homero Guizzo, economista da Guide Investimentos, o BC deve elevar o tom do comunicado sobre o câmbio, embora ainda não adote postura dura. “Não tem como ser hawkish com esse nível de atividade”, disse.
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