Traders estão começando a reavaliar as apostas de que o Banco Central cortaria a taxa básica de juros além de 5,5% no atual ciclo de flexibilização monetária, à medida que a nova tensão comercial global mostra impacto no câmbio.
O Copom pode interromper o ciclo de cortes de juros após uma nova dose de corte de meio ponto na Selic se o dólar romper R$ 4,00, nível apenas um pouco acima do que a moeda mostrou nesta segunda-feira. A curva de juros está precificando um ciclo total de 115 pontos-base, incluindo o corte de meio ponto da semana passada, em comparação com os 130 bps de alguns dias atrás.
A menor taxa de inflação em um ano e um grande hiato do produto, após anos de crescimento fraco ou recessão, abriram caminho para um ciclo mais longo de flexibilização. E aí, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou novas tarifas sobre produtos chineses, enquanto o Fed sinalizou que o corte de juros na semana passada não foi o começo de uma longa sequência de reduções.
A renovada tensão global empurrou o real para baixo em mais de 4% nos últimos cinco dias, o pior desempenho entre os mercados emergentes depois da África do Sul e da Colômbia. Embora haja uma visão amplamente difundida de que o repasse da variação cambial é baixo, a taxa de inflação tipicamente tem acompanhado os movimentos do câmbio. A exceção foi em 2017, quando a recessão derrubou a inflação, mesmo que o real tenha mudado pouco.
Como a próxima decisão sobre a Selic só acontecerá em setembro, os operadores têm tempo para digerir o aumento da volatilidade. Se o dólar continuar subindo, é improvável que o Banco Central reduza ainda mais a atratividade do carry trade.