Crise confunde analistas em relação ao PIB, previsões de inflação imprecisas

Por Mario Sergio Lima e David Biller.

O Brasil vai sofrer sua mais profunda recessão de dois anos em mais de um século, enquanto a taxa de inflação vai cair, de acordo com as previsões dos analistas. Se a história recente pode servir de guia, as projeções podem ser muito animadoras.

No início de 2015, analistas consultados pelo Banco Central disseram que o Brasil iria crescer 0,5%. Eles agora dizem que ele de fato encolheu 3,7%. Suas estimativas para o custo de vida também ficaram fora das previsões. No início do ano eles previram que a taxa de inflação subiria ligeiramente para 6,56%. E a agência nacional de estatísticas anunciou sexta-feira que a inflação do ano passado foi de 10,67%.
 

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As estimativas ressaltaram o quão difícil se tornou para os analistas tomarem a medida da economia do Brasil em meio à piora do impasse político, um escândalo de corrupção sem precedentes e queda dos preços das commodities. Eles também refletem o otimismo que existia no início de 2015, quando Joaquim Levy assumiu o cargo como ministro da Fazenda prometendo restaurar as finanças do Brasil. Ele renunciou no mês passado depois de uma crescente oposição do Congresso e do gabinete da presidente Dilma Rousseff ante suas medidas de austeridade.

“Os economistas tendem a ser mais otimista quando o ano começa devido ao fato de nós darmos um voto de confiança que o governo vai tentar resolver os problemas apresentados”, disse Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra.

“Em 2015, todos achavam que com Joaquim Levy o governo queria mudar a estratégia que estava falhando, mas isso não aconteceu.”

Em 4 de janeiro, uma pesquisa do Banco Central mostrou que os analistas esperavam que a economia do Brasil enfrentasse a recessão mais profunda em dois anos, pelo menos desde 1901, com o Produto Interno Bruto encolhendo 2,95% em 2016 após um valor estimado de declínio de 3,71% no ano passado.

“No ano passado, nós pensamos que as coisas seriam diferentes e no decorrer do ano vimos que estávamos errados”, disse Flavio Serrano, economista do banco de investimento Haitong, localizado em São Paulo. “Na sequência da dinâmica do ano passado, a maioria ainda está muito pessimista em termos da dinâmica de médio prazo.”

A previsão de analistas de que a inflação cairá para 6,87% este ano está em contraste com a estimativa de comerciantes de bonds, cujas expectativas foram as que acompanharam mais de perto o IPCA.

O custo de vida vai saltar 9,29% este ano, com base em um medidor de mercado conhecido como a taxa de equilíbrio. Metas de inflação do Brasil de 4,5%, mais ou menos dois pontos percentuais.
 

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Não são só os analistas que erraram comprovadamente, disse o economista do Goldman Sachs Alberto Ramos. Previsões do Banco Central ficaram aquém também. Os formuladores de políticas em dezembro 2014 previram que a inflação vai diminuir para 6,1% em 2015.

O Banco Central se recusou a comentar uma resposta por e-mail. “Um ano atrás, o Banco Central estava dizendo a todos no mercado que estava errado – a inflação vai cair muito mais rápido do que você pensa”, disse Ramos. “Na verdade, isso não aconteceu. O Banco Central não estava correto em sua análise.”

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