Por Mario Sergio Lima.
O Índice Bovespa pode ter disparado, o real pode ter se valorizado, mas um ano após a saída da presidente Dilma Rousseff, a população tem poucas razões para comemorar.
A pior recessão já vista no País continua. O desemprego bateu recorde. O governo quer que todos aceitem se aposentar mais tarde. E, mais recentemente, foram divulgados vídeos de depoimentos de executivos relatando em detalhes e, às vezes, aos risos, como compraram dezenas de políticos importantes.
“Os brasileiros são tradicionalmente otimistas”, disse Dorival Machado, diretor do instituto de pesquisas Data Popular. “Isso está mudando para a pior.”
Para quem acreditava que a saída de Dilma e do PT bastariam para restaurar a confiança no Brasil, os últimos 12 meses foram uma lição lenta e dolorosa. A previsão de crescimento do PIB neste ano é de apenas 0,4 por cento, embora o Banco Central tenha cortado a taxa básica de juros em 3 pontos percentuais desde outubro. Diante do escândalo de corrupção que parece não ter fim e do programa de austeridade do governo Michel Temer, a paciência com os políticos tradicionais está acabando. E as próximas eleições estão se aproximando.
“Uma população com um grau de pessimismo econômico e desilusão tem mais chance de apoiar populistas e salvadores da pátria”, disse Machado.
O descontentamento nas ruas ainda não afetou os mercados. O Ibovespa subiu 22 por cento e o real se valorizou 16 por cento desde abril de 2016, mostrando que os investidores acreditam que o governo Temer, embora profundamente impopular, será capaz de melhorar a economia e implantar reformas cruciais mesmo com as atenções se voltando para a Operação Lava Jato.
Porém, mesmo os aliados de Temer no Congresso acham que o governo não está fazendo o suficiente para impulsionar a economia no curto prazo.
Vídeos deprimentes
A Operação Lava Jato existe há três anos, mas iniciou outro capítulo marcante na semana passada, após o ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Edson Fachin autorizar a abertura de inquéritos sobre oito ministros de Temer, cerca de um quarto do Senado e dezenas de deputados federais.
Quatro dos cinco ex-presidentes ainda vivos foram citados por executivos da Odebrecht em delações envolvendo suposta corrupção. O próprio Temer (que não poderá ser processado por atos que precedem sua entrada na presidência) divulgou um vídeo se defendendo de acusações de ter participado de conversas sobre o financiamento ilegal de campanhas eleitorais.
Para agravar o clima de crise, milhares de horas de depoimentos em vídeo de executivos da Odebrecht foram divulgados pelo STF. As gravações adicionaram um componente pessoal e desalentador às transcrições de depoimentos que dominam a cobertura da imprensa há meses.
Nas gravações, o patriarca Emílio Odebrecht mal esconde seu desprezo por Dilma. Seu filho Marcelo mostrou desespero pelo fato de o departamento de propinas da empresa que presidia ser vítima de roubo. Executivos revelaram com franqueza ímpar como supostamente bancaram ilegalmente os políticos mais poderosos do País por décadas. Tudo isso chocou até os brasileiros mais acostumados ao noticiário sobre corrupção.
“O verbo servir não existe na politica brasileira e é isso o que estamos testemunhando agora da forma mais clara e devastadora”, disse Roberto DaMatta, antropólogo social e professor emérito da Universidade de Notre Dame. “Ninguém está otimista porque todos estão envergonhados.”
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