Alguns dos maiores compradores de proteína do mundo estão impondo limites às remessas brasileiras após o envolvimento de produtores do país em um escândalo de adulteração da carne.
A China, maior importador de frango e carne bovina do Brasil, suspendeu temporariamente as remessas do País, e a União Europeia, Chile e Japão restringiram as compras. Autoridades de Cingapura afirmaram que estão monitorando as remessas brasileiras, e a Coreia do Sul suspendeu seu breve veto às importações de frango da BRF após confirmar que nunca comprou frango estragado do Brasil.
As iniciativas de proteção dos estoques de carne surgem após autoridades federais terem afirmado, na semana passada, que estão investigando evidências de que companhias como BRF e JBS, os maiores produtores de carne do país, subornaram funcionários do governo para que aprovassem a venda de carne adulterada. Promotores alegaram que algumas linguiças continham partes de animais, como cabeças de porco, que alguns produtos de carne foram adulterados com papelão e que, em alguns casos, utilizou-se ácido para ocultar o cheiro de carne vencida.
Importadores internacionais reagiram rapidamente ao escândalo. China e Hong Kong foram o destino de cerca de um terço dos US$ 5,5 bilhões em carne bovina exportados pelo Brasil no ano passado, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Eles responderam por 17 por cento dos frangos despachados pelo país, de acordo com dados do setor.
A China afirmou que não aceitará remessas de carne bovina enquanto o Brasil não der mais esclarecimentos sobre a investigação. As autoridades impediram que algumas remessas de carne bovina e de frango passassem pela alfândega nos portos, disse uma pessoa familiarizada com a situação, que pediu anonimato porque esta informação não é pública.
O Chile também vetou temporariamente todas as importações de carne do Brasil, enquanto o Japão suspendeu importação dos 21 estabelecimentos investigados. No Reino Unido, um dos maiores compradores de carne brasileira na União Europeia, reguladores intensificaram as verificações alfandegárias e as inspeções de higiene na carne oriunda do Brasil.
As autoridades brasileiras confirmaram que as companhias implicadas na investigação foram proibidas de exportar para a União Europeia, disse o porta-voz da Comissão Europeia Enrico Brivio. O bloco suspendeu as importações de quatro plantas brasileiras, incluindo uma que pertence à BRF, Ricardo Santin, diretor da Associação Brasileira de Proteína Animal (Abpa), disse a jornalistas em São Paulo.
O escândalo pode impedir os planos brasileiros de abrir novos mercados, como México e Coreia do Sul, para a carne bovina depois que os EUA autorizaram importações de carne fresca no ano passado, disse Antônio Camardelli, presidente da Abiec, a jornalistas em São Paulo.
A Federação de Exportação de Carne dos EUA afirmou que ainda é muito cedo para especular sobre o possível impacto no comércio mundial de carne porque “na verdade, não há fatos suficientes disponíveis sobre a investigação nem sobre como os parceiros comerciais do Brasil vão reagir”, informou o grupo em uma resposta enviada por e-mail a perguntas feitas pela Bloomberg.
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