Por Srinivasan Sivabalan.
A forte queda dos mercados emergentes que começou há três semanas tem uma conotação perturbadora que a torna ainda mais perigosa que a explosão violenta do fim de janeiro.
A “oscilação” global do início do ano ganhou manchetes porque veio com uma súbita onda de volatilidade. Mas aquela foi uma ferida superficial, e a famosa resiliência dos mercados emergentes contribuiu para a rápida recuperação de ações, títulos e moedas. Quando o dólar americano perdeu impulso, os investidores foram atraídos novamente pelas oportunidades de carry trade (operação na qual os investidores se aproveitam da diferença nas taxas de juros de diferentes países).
Desta vez, porém, a ferida é mais profunda. O dólar subiu em 17 dos últimos 21 dias, fazendo com que todas as moedas de países em desenvolvimento, com exceção do rublo, gerassem retornos de carry negativos aos investidores neste mês. Até mesmo o poderoso rand sul-africano, cujo desempenho acima da média desde dezembro tem dado o que falar, dava retorno negativo nesta terça-feira.
Mas não é aqui que está a conotação sombria. Ela está no fato de as tradicionais fortificações dos mercados emergentes — preços fortes do petróleo e das commodities — não estão conseguindo proteger as moedas dos países em desenvolvimento do ataque de um dólar mais forte.
Em janeiro, as moedas e as commodities dos países em desenvolvimento caíram juntas e voltaram a subir também em sintonia. Mas desta vez, apesar de o Bloomberg Commodity Index estar ampliando os ganhos, as moedas despencaram. Essa divergência sugere que a força do dólar americano é mais decisiva para o apetite por risco do que os preços das commodities.
Trata-se de uma má notícia para países como África do Sul e Rússia. O rublo, por exemplo, no momento oscila na direção oposta do petróleo, apesar de este ser o item que mais colabora com as exportações do país. A correlação positiva habitual foi destruída por quatro dias de declínio da moeda depois que os EUA aumentaram as sanções.
Riscos vêm à tona
Os riscos idiossincráticos estão influenciando mais as oscilações cambiais, o que contraria a tendência observada por dois anos a partir de janeiro de 2016, quando os investidores que buscavam rendimentos ajudaram os mercados emergentes a subir em meio a turbulências políticas e problemas diplomáticos.
Na Rússia, as sanções dos EUA freiam o rublo. Na Turquia, os princípios econômicos do presidente Recep Tayyip Erdogan, que prefere combater a inflação com taxas de juros mais baixas, estão derrubando a lira. Esses fatores locais se tornam mais evidentes com a valorização contínua do dólar.
Para que essa forte queda atual termine e os mercados emergentes recuperem o apelo para o carry tarde, três elementos precisam convergir:
– o dólar precisa parar de se valorizar;
– as economias emergentes precisam dar um tempo nas turbulências políticas autoinfligidas;
– as moedas precisam recuperar a correlação positiva com as commodities, especialmente com o petróleo.
O cenário oposto, inevitavelmente, é uma enorme moderação das posições de carry.
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