Deterioração fiscal volta a assombrar mercados

Notícia exclusiva por Josué Leonel.

O resultado fiscal de março representa a segunda decepção seguida para os investidores. No acumulado do 1º trimestre, o dado é menor do que o de mesmo período de 2014, que terminou com um resultado anual desastroso. O déficit primário acumulado em 12 meses aumentou pelo 2º mês seguido.

O quadro fica pior quando se olha o déficit nominal, uma métrica mais usada internacionalmente e que inclui a conta de juros, que atingiu R$ 69,2 bilhões no mês passado, perto do recorde de R$ 69,4 bi atingido em setembro de 2014, quando Guido Mantega vivia suas últimas semanas como ministro.

Embora as medidas de ajuste fiscal sejam a esperança de conter essa deterioração fiscal, as últimas declarações do presidente do Senado, Renan Calheiros, reacendem preocupações sobre dificuldades políticas do governo em aprovar medidas impopulares no Congresso.

O dólar ampliou a alta e voltou aos R$ 3,00 após o resultado divulgado nesta manhã. O mercado parece dar um passo atrás no sentimento de esperança que ajudou o real a se recuperar em abril após quase atingir quase R$ 3,30 por dólar no ápice do pessimismo em março. Este sentimento de cautela já havia sido antecipado ontem pelo próprio ministro Joaquim Levy, cujo tom de preocupação pareceu contrastar com as apostas mais otimistas do mercado nas últimas semanas.

Mesmo reconhecendo que a possibilidade de o Brasil perder o grau de investimento parece menor agora, Levy disse ontem no Congresso que a ameaça não desapareceu e advertiu que o risco fiscal é o maior de todos. “Se a gente não conseguir o ajuste fiscal, o risco do downgrade volta e volta rápido”, advertiu o ministro perante parlamentares que vêm discutindo as medidas fiscais que, segundo os jornais, já foram podadas em mais da metade dos cortes previstos.

O País segue gastando mais do que arrecada e pode chegar a um quadro de crise se isso não for sanado, disse o ministro. Para Levy, é preciso reverter a deterioração fiscal e também a das contas externas.
Mesmo após o déficit inesperado de fevereiro, divulgado em 31 de março, o dólar caiu e a bolsa subiu, com o mercado animado pela expectativa de que Levy, apesar das dificuldades, vai cumprir a meta de superávit, e também refletindo o alívio em outras áreas, como a divulgação do balanço da Petrobras e a percepção de que o fim da era de juros baixos nos EUA ainda não está próximo.

Os números divulgados hoje são um sinal de que a cautela demonstrada ontem por Levy é pertinente. E que os ganhos dos ativos brasileiros nas últimas semanas podem ter sido motivados por um otimismo ainda não respaldado pelos números.

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