Por Christopher Langner.
Animem-se, investidores de mercados emergentes: a comandante do banco central dos EUA, Janet Yellen, está prestes a acelerar o ritmo de aumento dos juros por lá.
É difícil manter o otimismo quando a carteira está derretendo, mas talvez o quadro não seja tão terrível. É preciso lembrar que, isoladamente, os juros dos EUA não vão determinar as taxas de retorno dos ativos de mercados emergentes. Quem fará isso é o dólar.
Uma regressão de 15 anos de dados mensais de câmbio e taxas de retorno de títulos e ações mostra que 79 por cento do MSCI Brasil, 60 por cento da referência para as ações da Rússia e 54 por cento da referência para a Índia são relativos a oscilações no real, rublo e rúpia, respectivamente. Os resultados são parecidos para a renda fixa, segundo índices corporativos do Bank of America Merrill Lynch.
A boa notícia é que, mesmo após o dólar ter atingido sua máxima desde janeiro de 2003 na esteira do anúncio de acréscimo de juros pelo Federal Reserve, a expectativa dos analistas é que a moeda americana se deprecie no ano que vem. A avaliação dos últimos três ciclos de aperto monetário nos EUA também é reconfortante: sempre que o dólar se comportou bem, as ações e os títulos dos mercados emergentes fizeram o mesmo.
Em 1994, quando o Fed elevou a taxa básica de juros de 3 por cento para 5,5 por cento em seis acréscimos, o MSCI Emerging Markets recuou 10,3 por cento. Poderia ter sido pior, não fosse pela política de dólar fraco do governo americano na ocasião — o índice que acompanha a moeda americana caiu 7,2 por cento. Na época, havia menos negócios com ativos de países em desenvolvimento, que eram mais vulneráveis a grandes flutuações, e os mercados ao redor do mundo eram bem menos interconectados.
Talvez o ocorrido na virada do século seja um exemplo melhor do que pode acontecer. Em junho de 1999, Alan Greenspan iniciou um ciclo de altas de juros para ajudar a conter a exuberância irracional dos mercados em meio à bolha da internet. No fim de maio de 2000, a taxa básica estava em 6,5 por cento, ou 175 pontos-base acima de onde estava apenas um ano antes. No último ano da década, o dólar se comportou bem, preservando os mercados emergentes. Mas no segundo trimestre de 2000, o dólar disparou e as ações de países em desenvolvimento derraparam. Em dezembro daquele ano, o MSCI Emerging Markets acumulava queda de 26 por cento e a moeda americana havia se apreciado 3,9 por cento.
Talvez o melhor dos ciclos de aperto monetário dos últimos 30 anos tenha sido aquele iniciado em 2004. No período de dois anos em que Greenspan elevou a taxa básica de juros de 1 por cento para 5,25 por cento — logo antes de passar a presidência do Fed a Ben Bernanke —, o MSCI Emerging Markets deu um salto de 73,3 por cento. O que aconteceu? O dólar se desvalorizou 4,2 por cento na mesma época.
A ressalva é que o índice que acompanha o dólar subiu 3,6 por cento neste ano e alcançou seu maior nível desde janeiro de 2003 após o Fed ter subido a taxa básica em 25 pontos-base, na quarta-feira. Enquanto isso, o MSCI Emerging Markets avançou 8,6 por cento desde o começo de janeiro e o índice Bloomberg Barclays Emerging Markets Hard Currency deu retorno de 8,5 por cento.
Uma possível explicação é que os ativos de países em desenvolvimento vieram de cinco anos de desvantagem em relação ao resto do mundo, portanto havia espaço para recuperação, apesar do dólar forte.
E com os analistas prevendo depreciação do dólar, talvez existam razões para otimismo, até porque o fortalecimento da economia americana beneficia os mercados emergentes.
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