Emergentes não estão perto de crise financeira

Por Michael Schuman.

Os investidores internacionais ainda estão tremendo de medo de uma crise nos mercados emergentes. Em uma pesquisa realizada recentemente pela gestora holandesa de fundos NN Investment Partners, um terço dos investidores institucionais consultados disse que uma crise financeira no mundo emergente era o maior risco que eles enfrentavam hoje, superando uma crise renovada na Zona do Euro e aumento de juros. O medo parece justificado. O confuso mercado acionário chinês e a deterioração da moeda estão perturbando os mercados internacionais. O Brasil e a Rússia entraram em recessões profundas. A diretora do FMI, Christine Lagarde, disse em um discurso no dia 12 de janeiro que os países em desenvolvimento “agora estão enfrentando uma nova realidade” de um crescimento mais lento.

No entanto, uma crise financeira nas economias emergentes é menos provável do que as manchetes assustadoras e a turbulência dos mercados internacionais sugerem. O fato é que a maioria dos países em desenvolvimento está em forma muito mais sólida do que pode parecer à primeira vista.

Os analistas dizem que haverá uma perigosa explosão da dívida no mundo emergente. No entanto, pelos padrões históricos, a acumulação na maioria dos países não foi tão dramática. Em uma pesquisa de 2015, Neil Shearing, economista-chefe de mercados emergentes da empresa de pesquisa Capital Economics, analisou crises anteriores e descobriu que “os problemas tendem a surgir depois de uma rápida expansão da dívida, não quando a dívida ultrapassa um determinado limite”. Ele recomenda analisar o ritmo de acumulação da dívida, em vez do tamanho absoluto, para tentar identificar a próxima crise.

E, nos últimos anos, a maioria dos países emergentes não adicionou dívida suficiente, em relação ao tamanho de suas economias, para justificar as advertências mais pessimistas. Durante a última década, a razão entre a dívida privada e o PIB da Malásia aumentou em 18,5 pontos percentuais, 17 na Índia, 12,5 na Indonésia e 11 na África do Sul, segundo dados fornecidos pela Capital Economics. Em comparação, antes da crise financeira de 1997, essa razão tinha subido quase 100 pontos percentuais na Tailândia e muito acima de 50 na Malásia.

Muitas economias em desenvolvimento estão muito melhor preparadas para os choques externos. Em muitos mercados emergentes principais, a maior parte da nova dívida está denominada em moeda local, não em moeda estrangeira; isso os torna menos vulneráveis à desvalorização de moedas e à fuga de capitais. As reservas em moeda estrangeira também foram substancialmente fortalecidas. Segundo dados do Banco Mundial, a Indonésia tinha acumulado US$ 112 bilhões em reservas no fim de 2014 – quase seis vezes mais do que em 1996, antes da crise financeira asiática. As reservas da Tailândia, de US$ 157 bilhões, eram quatro vezes maiores. Na Índia, as reservas eram de apenas US$ 5,6 bilhões em 1990. Em 2014, elas tinham aumentado para US$ 325 bilhões.

É claro que prever se uma crise vai acontecer ou não também é um negócio arriscado. Alguns países importantes se tornaram muito mais instáveis nos últimos anos, especialmente a China, que testemunhou a mais espetacular explosão de dívida entre as principais economias emergentes. A dívida de seu setor privado deu um salto de 80 pontos percentuais, para mais de 200 por cento do PIB, na última década. A Turquia, o Brasil e a Rússia também são possíveis pontos críticos. Sempre existe a possibilidade de que a explosão em um país se espalhe pelos mercados emergentes, como aconteceu no fim da década de 1990. Nessas circunstâncias de pânico, as condições diferenciadas de cada economia deixam de ter muita importância.

Mesmo assim, as economias emergentes se mostraram notavelmente resilientes em meio aos traumas dos três últimos anos. As preocupações relativas ao impacto provocado pelo aperto do Fed causaram a debandada de capitais dos mercados emergentes em diversos períodos desde meados de 2013. No último trimestre, os fluxos de saída atingiram o recorde histórico de US$ 270 bilhões – mais do que a quantidade que fugiu durante os piores momentos da crise financeira de 2008. Como resultado, as moedas dos mercados emergentes despencaram. A rúpia indiana perdeu cerca de um quinto de seu valor frente ao dólar desde meados de 2013 e a rúpia indonésia, um terço. O rublo russo vale menos da metade do que valia há apenas 18 meses. No entanto, apesar dessas pressões, nenhuma economia importante caiu em uma crise de grandes proporções.

O que está acontecendo no mundo em desenvolvimento não é uma crise financeira, mas uma crise de crescimento. O FMI projeta que as economias emergentes crescerão apenas 4,3 por cento em 2016, bem abaixo dos 8,2 por cento de 2006. Esse é um problema para a economia mundial, que está buscando desesperadamente novas fontes de crescimento – e, acima de tudo, para as 900 milhões de pessoas que ainda estão presas na pobreza. Lagarde, em seu discurso recente, observou que os níveis de renda no mundo emergente estão convergindo para os níveis das economias avançadas a um ritmo dois terços mais lento que o previsto há uma década. Ela lamentou essa tendência, que é “motivo de preocupação”. As dificuldades dos mercados emergentes podem não gerar a próxima grande crise do mundo, mas elas são um dos maiores problemas do mundo.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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