Esforços do BCE não bastam para forçar bancos a emprestar

Por Yalman Onaran.

O Banco Central Europeu começou a cobrar juros sobre depósitos dos bancos em junho de 2014 para incentivá-los a emprestar mais a empresas e consumidores. Não funcionou.

Os depósitos mantidos pelos bancos da zona do euro no BCE além das reservas exigidas se multiplicaram por seis desde a introdução de taxas de juros negativas, enquanto os empréstimos dentro do bloco ficaram praticamente estáveis. Dos 646 bilhões de euros (US$ 730 bilhões) que os bancos coletaram em ativos no período, cerca de 85 por cento terminaram como depósitos no banco central.

Um dos motivos pelos quais os bancos estão pagando para manter o dinheiro parado é a falta de demanda por empréstimos em uma economia que ainda está se recuperando de uma recessão dupla e da crise das dívidas soberanas. Outro motivo é que os bancos sobrecarregados por empréstimos inadimplentes ou baixos níveis de capital e aqueles que estão no meio de uma reestruturação relutam em ampliar os empréstimos. Nem mesmo a oferta mais recente do BCE de pagar juros aos bancos sobre o dinheiro que eles emprestam proveniente do montante mantido no banco central pode ser suficiente.

“Eles não são suficientemente rentáveis para aumentar o crédito substancialmente, por isso provavelmente nem mesmo a taxa negativa para empréstimos do BCE aos bancos será de muita ajuda”, disse Jan Schildbach, chefe de pesquisa para o setor bancário e os mercados financeiros do Deutsche Bank em Frankfurt. “O problema não é a falta de liquidez, nem o preço”.

Um porta-voz do BCE se recusou a comentar sobre o impacto das políticas no comportamento do banco.

Níveis de empréstimos

Os empréstimos para empresas não financeiras e consumidores, excluindo hipotecas, estão estagnados em cerca de 6,8 trilhões de euros desde junho de 2014, mostram dados do BCE, apesar dos programas de liquidez do banco central para incentivar mais desses empréstimos. Os bancos centrais têm olhado para esses números para determinar quanto dinheiro barato devem oferecer aos bancos. Os bancos que aumentam esse tipo de empréstimo se qualificam para receber mais fundos.

Quando se aprofundou mais no território negativo, em 10 de março, o BCE disse que usaria um critério similar para determinar se um banco se qualifica para taxas negativas para o dinheiro que toma emprestado do banco central. Isso significa que o BCE agora está disposto a pagar aos bancos para que tomem empréstimo pela mesma taxa que cobra pelos depósitos excedentes que eles mantêm lá. E que está disposto a fazê-lo mesmo que um banco não esteja ampliando os créditos, desde que reduza os empréstimos a uma taxa mais lenta do que nos 12 meses anteriores.

“Parece que o BCE está simplesmente tentando parar o sangramento”, disse Silvia Merler, pesquisadora do Bruegel, um grupo de pesquisas econômicas de Bruxelas. “Eles basicamente também fizeram isso com os programas anteriores de liquidez. Eles não conseguiram encorajar mais empréstimos, mas pelo menos interromperam a erosão que estava em andamento”.

Os empréstimos dentro da zona do euro a empresas não financeiras e consumidores, excluindo hipotecas, haviam caído em 627 bilhões de euros, ou 8,5 por cento, de junho de 2012 a maio de 2014.

‘Desempenho ruim’

Embora as taxas negativas ajudem as empresas e os consumidores europeus a reduzirem os custos dos empréstimos, elas também reduzem as margens de lucro dos bancos. O motivo é que os juros que os bancos pagam aos poupadores, que seguem as taxas de curto prazo do BCE, normalmente não podem se tornar negativos por medo de que os clientes pessoa física saquem o dinheiro e o mantenham em casa. Quando as taxas de empréstimos continuam caindo e as taxas de depósito estão paralisadas em zero, a diferença entre o que o banco cobra pelos empréstimos e o que paga às poupanças continua encolhendo.

“Uma das razões para o desempenho ruim dos bancos é o encolhimento de suas margens devido aos juros negativos”, disse Alastair George, estrategista de investimentos da Edison Investment Research em Londres. “Se os bancos não estão saudáveis o suficiente para realizar mais empréstimos porque não conseguem lucrar, como as taxas poderão ampliar os empréstimos?”.

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