Por Felipe Marques.
Roberto Sallouti se sente recém-saído da faculdade.
O presidente do BTG Pactual, um veterano da área de renda-fixa do banco, passou os últimos quatro anos se debruçando sobre assuntos que passavam longe da rotina do mercado financeiro, como “cloud computing”, “performance marketing” e métricas de “data analytics”. O aprendizado, que Sallouti compara a voltar à escola, faz parte do esforço do banco em avançar em empreendimentos digitais, que incluem desde uma plataforma de investimentos para clientes de varejo até um criptoativo lastreado em imóveis. Agora, está levando o BTG a emprestar para empresas brasileiras de médio e pequeno porte.
O banco vem testando uma plataforma digital para essa operação, disse Sallouti em uma entrevista na sede do BTG em São Paulo, entrando em um tipo de negócio que nunca havia explorado antes. A plataforma também vai oferecer às PMEs outros serviços bancários do BTG e de outras empresas de fintech, semelhante ao modelo de plataforma aberta que o banco tem usado com investidores de varejo.
“A revolução tecnológica abriu espaço para um banco como o nosso atingir um público que não atingia antes, pela falta de capilaridade, de distribuição”, disse Sallouti. “E sem envolvimento dos principais sócios do banco, você não empurra uma iniciativa como essa, que precisa de investimento, de mudança de cultura.”
A nova expertise de Sallouti está levando-o para a Califórnia na próxima semana, onde ele falará em uma conferência para brasileiros que querem estreitar conexões no Vale do Silício – um passo e tanto para alguém que brinca que às vezes precisava olhar discretamente no Google o significado de alguns termos tecnológicos durante reuniões.
As mudanças no BTG foram além de lançar novos negócios ou de ampliar o conhecimento do CEO. O banco gastou cerca de R$ 300 milhões montando seu negócio digital nos últimos três anos, incluindo desenvolvimento de sistemas, marketing e contratações. Em um sinal da mudança cultural que se seguiu na empresa, um dos andares de sua sede agora tem uma parede coberta de grafite, “algo impensável alguns anos atrás”, disse Sallouti.
O BTG tem cerca de 300 pessoas trabalhando em seus negócios digitais, muitas delas com habilidades incomuns para funcionários de bancos. As contratações incluem designers de games, ex-funcionários de gigantes da tecnologia, arquitetos, pessoas com mestrado em filosofia e até uma designer que também é tatuadora.
“Queremos gente que pense diferente”, disse Sallouti. “De banqueiros, já chega nós.”