Explosão da dívida do Brasil causará problemas em breve

Por Jonathan Levin e Ye Xie Com a colaboração de Sebastian Boyd e David Biller.

Comandar o gigantesco orçamento do Brasil não é tarefa fácil, independente da qualidade do gestor.

Corte despesas discricionárias e corra o risco de sofrer uma reação de um eleitorado já frustrado. Aumente os impostos e você poderá piorar a esmagadora recessão do país. E se privatizar empresas estatais? Prepare-se para a ira dos sindicatos. E quanto a reduzir os gastos da previdência? Isso levará décadas para se manifestar nas contas do país. E nada disso resolveria a enorme despesa com juros do Brasil.

Essa é a dura realidade enfrentada pelo presidente interino, Michel Temer, 75, que assumiu há três semanas no lugar de Dilma Rousseff enquanto ela aguarda o julgamento do impeachment. Sua equipe econômica — chamada de “time dos sonhos” pelo Goldman Sachs — assume um país assolado pela crise, com uma dívida do setor público que subiu 9 pontos percentuais apenas no ano passado, para 67 por cento do produto interno bruto. E o passivo continua se acumulando rapidamente. O déficit orçamentário agora está entre os maiores de todos os países do G-20, exceto a Arábia Saudita, equivalente a mais de 10 por cento do PIB.

“Estou muito cético em relação à possibilidade de eles conseguirem isso”, disse Desmond Lachman, ex-diretor do Fundo Monetário Internacional. “É preciso fazer todo esse exercício com uma economia frágil e existe o risco de derrubar ainda mais a economia. Se a política está muito difícil agora, quão pior estará dentro de alguns meses se a economia continuar em queda?”.

A relação entre dívida bruta e PIB, embora ainda esteja em níveis gerenciáveis por enquanto, está a caminho de superar os 80 por cento dentro de dois anos, segundo Lachman, atualmente membro residente do American Enterprise Institute em Washington. Ela excederia o limite que, segundo os economistas do Banco de Compensações Internacionais, prejudica o crescimento. E também levanta preocupações em relação à sustentabilidade fiscal em um país que não honrou pagamentos de dívidas externas nos anos 1980 e procurou um resgate do FMI em 2002.
 

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Há diferenças importantes desta vez — o país atualmente possui muito mais dólares para usar em caso de emergência e deve dinheiro principalmente a investidores locais, e não estrangeiros –, mas ainda assim outra grande crise pode estar se aproximando, disse Lachman.

As opções de Temer são limitadas. Mesmo que sua equipe consiga reunir apoio político para os cortes de gastos no Congresso — algo que o governo Dilma não conseguiu –, ela será limitada por um orçamento no qual apenas um quinto dos gastos é discricionário, segundo cálculos da Bloomberg Intelligence. Das maiores despesas obrigatórias, os benefícios previdenciários respondem por 38 por cento do orçamento e as folhas de pagamentos, por 20 por cento. Os subsídios e o seguro-desemprego representam 5 por cento cada.

A privatização de empresas estatais poderia ajudar a reduzir a dívida e haveria menos companhias estatais que potencialmente poderiam pedir resgate no futuro, mas os sindicatos certamente vão se opor a isso, disse Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs que cunhou o termo “time dos sonhos” para a equipe econômica do governo.

“Para isso, é preciso garantir apoio político — e realmente convencer a sociedade de que é necessário”, disse Ramos. Isto pode ser feito? “Não sabemos”, disse ele.

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