Falta de hedge surpreende diante do tombo das bolsas nos EUA

Por Dani Burger com a colaboração de Lu Wang.

Talvez os avisos já tenham cansado.

A tensão comercial entre EUA e China está se agravando, o índice Nasdaq 100 caminha para um nono pregão consecutivo de oscilação de 1 por cento e os ativos considerados portos seguros estão na moda no mundo todo. Mesmo assim, raramente se vê atividade de hedge.

Os investidores das bolsas só tiveram tão pouco interesse em se proteger contra riscos extremos — ou disparada extraordinária da volatilidade — em três outras ocasiões na última década. O índice Cboe SKEW, que acompanha o custo das chamadas opções “out-of-the-money” (sem valor na data presente e que só geram lucro em uma virada na tendência do preço do ativo subjacente) do S&P 500, vem caindo nas últimas duas semanas e agora se encontra dois desvios-padrão abaixo da média. Outro indicador do mercado de opções, o Barômetro do Medo Credit Suisse, atingiu na segunda-feira seu menor patamar desde 2016.

Isso não quer dizer que os investidores tenham desistido totalmente dos hedges.

O Cboe Volatility Index (conhecido como VIX) permanece acima de 20 pontos – nível jamais observado em 2017 – e vem subindo à medida que os mercados digerem as retaliações da China contra as tarifas de importação propostas pelos EUA. No entanto, se a tensão comercial acabar causando um enorme salto na volatilidade, o seguro é escasso entre os investidores. O Goldman Sachs Group recomendou que eles busquem maior proteção após o vencimento de muitos contratos de hedge envolvendo o S&P 500 nas últimas três semanas.

“O nível atual do índice SKEW pode sinalizar falta de preocupação em relação a um risco extremo iminente”, escreveu Tim Emmott, diretor-executivo da Olivetree Financial, em Londres, em relatório distribuído a clientes na terça-feira. “Parece uma armação para acontecer o inverso no médio prazo.”

Emmott explicou que as quedas recentes nas bolsas dos EUA podem estar por trás da desalavancagem, uma vez que os investidores compraram proteção no início de março e realizaram lucro com esses contratos quando as perdas se concretizaram. A última vez em que a pontuação do SKEW foi tão baixa foi na data em que o S&P 500 registrou sua maior queda em mais de seis anos, no dia 5 de fevereiro.

É importante ressaltar que derrapadas no SKEW costumam preceder quedas no VIX — e não o contrário. O índice de volatilidade recuou aproximadamente 35 por cento desde 5 de fevereiro e, nos últimos dois anos, teve queda no mês seguinte a mínimas registradas pelo SKEW, segundo dados compilados pela Bloomberg.

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