Por Jeanna Smialek.
O banco central dos EUA (Federal Reserve) pode passar por uma reviravolta sob quem quer que vença a eleição presidencial neste ano. No entanto, a percepção é que Donald Trump teria mais inclinação a exigir mudanças radicais do que Hillary Clinton.
A candidata do Partido Democrata pediu maior diversidade na instituição, mas defende a prática dos últimos presidentes de ambos os partidos de não comentar sobre política monetária. Trump tem sido vago sobre as mudanças que gostaria de ver no Fed, porém ignora a tradição de respeito à independência da política monetária. O candidato do Partido Republicano criticou o banco central por manter os juros baixos que, segundo ele, estão nesse patamar para consolidar o legado do presidente Barack Obama.
Trump sugeriu que, se chegar à Casa Branca, provavelmente escolherá outra pessoa para comandar o Fed quando terminar o mandato de Janet Yellen, em 2018. Isso cria “incerteza sobre para quem iria a nomeação”, disse Michelle Meyer, economista-chefe para os EUA do Bank of America, em Nova York. Já Clinton teria menos inclinação a reestruturar a instituição de 103 anos. “Acho que ela manteria o status quo do Fed.”
Nos últimos anos, parlamentares dos dois partidos apresentaram propostas para limitar a autoridade do banco central, incluindo uma auditoria da política monetária à qual Trump expressou aprovação. Alterações no Fed pela via legislativa exigiriam apoio dos dois partidos no Congresso ou uma ampla vitória na eleição de 8 de novembro que desse o comando da Câmara de Deputados e do Senado a um dos partidos, que assim poderia empurrar reformas.
Mudança óbvia
Isso significa que a mudança mais óbvia a ser enfrentada pelo Comitê de Mercado Aberto (FOMC) será a tradicional nomeação presidencial. Tanto Yellen quanto seu vice, Stanley Fischer, chegarão ao fim de seus mandatos em 2018 e há dois assentos vagos no comitê de sete integrantes do Fed em Washington.
“No caso de Trump, acho que a escolha seria fora da caixa, pessoas de sucesso no mundo empresarial, gestores de hedge funds de sucesso, gente com quem ele talvez tenha se relacionado no meio empresarial”, disse Aaron Klein, pesquisador residente de economia na Brookings Institution, em Washington, e eleitor de Clinton. Embora tenha se recusado a especular sobre quem Clinton escolheria para comandar o Fed, Klein afirmou que, se ela vencer, “a tendência é de mais continuidade no Federal Reserve”.
Qualquer nomeação precisaria passar pelo Senado. Meyer e seus colegas no Bank of
America afirmaram em relatório divulgado em 29 de setembro que “o maior risco de mudança viria com uma grande vitória republicana”, que potencialmente abriria caminho para aprovação das indicações de Trump pelo Senado.
Especula-se que mudanças na liderança do Fed podem acontecer antes de 2018. Paul Ashworth, economista-chefe para os EUA da Capital Economics, em Toronto, acredita que Yellen pode pedir demissão se Trump for eleito. Estrategistas do Morgan Stanley incluíram um pedido de demissão dela como possível consequência do resultado eleitoral, ainda que com baixa probabilidade.
Uma saída súbita estabeleceria um “precedente ruim” e é improvável, segundo Joseph Gagnon, integrante sênior do Peterson Institute, em Washington, que atuou como economista sênior do Fed.
“Eu não acho que ela gostaria de incentivar isso”, ele disse.
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