Foi uma ‘flash crash’? e outras perguntas sobre a queda da segunda-feira

Por Sam Mamudi.

Os investidores dos EUA estavam tensos na manhã da segunda-feira, pois o medo de uma desaceleração econômica sacudiu mercados do mundo inteiro.

A preocupação deles se materializou quando o Standard Poor’s 500 Index despencou 5,3 por cento nos primeiros minutos do pregão, a maior perda intradiária em quatro anos. Foi o começo de um montanha-russa, pois o mercado se recuperava, mas voltava a cair. O padrão se repetiu durante o dia até o encerramento, quando a referência terminou com uma baixa de 3,9 por cento.

No caminho, houve oscilações selvagens de preços, interrupções do trading e níveis de volatilidade não vistos há anos. A coisa ficou tão ruim que o ex-secretário do Tesouro dos EUA Larry Summers recorreu ao Twitter para comparar os acontecimentos do dia com crises anteriores e dizer: “poderíamos estar na fase inicial de uma situação muito grave”.

Enquanto os investidores ponderam o que tudo isso significa, respondemos a algumas das principais perguntas sobre o dia.

Foi uma “flash crash”?

A queda de 6 de maio de 2010 foi apelidada “flash crash” (queda instantânea) e foi um choque. Do nada, o mercado acionário perdeu quase US$ 1 trilhão em valor antes de recuperar a maior parte de suas perdas quase imediatamente. Embora os preços tenham caído rapidamente na segunda-feira, isso pareceu refletir bem a confiança dos investidores: os índices estavam caindo no mundo inteiro, liderados por um afundamento de 8,5 por cento do Shanghai Composite Index da China, em meio à preocupação de que a economia mundial estivesse piorando. Também é preocupante que o Federal Reserve (Fed) aumente as taxas de juros em breve, o que, segundo alguns, poderia afetar o mercado altista das ações, em andamento há seis anos. Refletindo esse pessimismo, o S&P 500 encerrou o dia com a maior perda desde agosto de 2011. O afundamento desta manhã não foi apenas um blefe.

Algumas ações de fato caíram?

Muitas ações começaram o dia em baixa, como a General Electric Co. e o JPMorgan Chase Co. Minutos depois, as coisas pioraram muito, e tanto a GE quanto o JPMorgan chegaram a cair 21 por cento durante um breve período.

Quais proteções estavam em vigor?

Depois do flash crash de 2010, introduziu-se um sistema de contenções no intuito de evitar que transações errantes empurrem os preços para baixo. Os traders não devem cotar os preços fora de certa porcentagem acima e abaixo do preço médio de uma ação. Essa restrição não funcionou para a GE, o JPMorgan e outras ações no começo da segunda-feira, possivelmente porque as faixas de preços aceitáveis são mais amplas nos primeiros minutos do dia. As perdas – embora grandes – não foram suficientemente grandes. No final do dia, a GE e o JPMorgan tinham quedas menos chamativas: 2,9 por cento e 5,3 por cento, respectivamente.

O trading foi interrompido?

Sim, em 1.278 ocasiões na segunda-feira, um título foi pausado durante cinco minutos, segundo o dono da New York Stock Exchange, que normalmente experimenta menos de dez interrupções por dia. Novecentas e noventa e nove interrupções ocorreram na NYSE Arca, que registra mais fundos negociados em bolsa (ETF, na sigla em inglês) do que qualquer outro mercado. Isso sugere que muitos ETF menos negociados tiveram dificuldades quando os preços de suas ações subjacentes oscilaram muito.

Quão ruim a coisa poderia ter ficado?

Se o S&P 500 tivesse caído 7 por cento antes das 15h25, horário de Nova York, o mercado acionário inteiro teria sido fechado por quinze minutos. O índice chegou a declinar apenas 5,3 por cento. Uma perda de 13 por cento teria provocado outra pausa de quinze minutos, e um afundamento de 20 por cento teria fechado o mercado pelo restante do dia.

O restante do dia foi tranquilo?

Na verdade, não. A medição mais famosa das oscilações esperadas nos preços do mercado – ou, talvez mais precisamente, um indicador do medo – atingiu um nível visto por última vez em outubro de 2011 quando os investidores entraram em pânico. A coisa era tão extrema no começo do dia que a medição, chamada Chicago Board Options Exchange Volatility Index (VIX), não pôde ser calculada durante a primeira meia hora de trading.

Houve alguma avaria nas bolsas?

Foram negociados mais de 14 bilhões de ações, um número muito maior do que a média diária dos últimos doze meses, de 6,6 bilhões, e a maior quantidade desde agosto de 2011. Apesar das pressões causadas pelos volumes e por uma volatilidade não observados há anos, não se informaram panes. Isso deveria ser um alívio para os executivos das bolsas, que foram criticados pelos reguladores e pelo público do trading por uma série de contratempos nos últimos anos.

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