Guerra comercial muda perspectiva da política monetária na Ásia

Por Lilian Karunungan

Com os bancos centrais da Ásia entrando na corrida para defender suas moedas diante da escalada dos conflitos comerciais e alta de juros nos EUA, o mercado começa a ajustar apostas em relação à política monetária da região.

Investidores de swaps começaram a reverter expectativas de elevação de juros na China, Coreia do Sul, Malásia e Taiwan, uma vez que a inflação baixa abre espaço para flexibilizar ou adiar altas nas taxas, permitindo que países que dependem das exportações ajudem suas economias enquanto a tensão no comércio internacional se agrava. Já na Indonésia, Índia e Filipinas, aumentaram as chances de aumento de juros para acompanhar o aperto na política monetária nos EUA.
“Com o mercado ainda nervoso, ocorre uma diferenciação entre economias com déficits gêmeos — Índia, Indonésia e Filipinas – e o resto da manada”, explicou Eugene Leow, estrategista de renda fixa da DBS Group Holdings, em Cingapura. “China, Coreia, Malásia e Taiwan não enfrentam riscos inflacionários iminentes ou problemas de financiamento externo.”

Estas foram algumas das mudanças observadas nas expectativas para os juros em relação a três meses atrás:

Coreia do Sul
O banco central mantém a taxa básica estável em 1,5 por cento desde novembro, quando subiu os juros pela primeira vez em seis anos. A instituição está dando mais importância às tendências de crescimento econômico e inflação do que aos riscos gerados pelo endividamento das famílias e pela saída de capitais, afirmou o comandante Lee Ju-yeol no mês passado.

China

Com a demanda doméstica mais fraca e os perigos da guerra comercial batendo à porta, o banco central precisa decidir entre expandir o crédito e flexibilizar a política monetária para ajudar o crescimento ou permitir que a economia se desacelere ainda mais enquanto o governo contém o endividamento, escreveu Alex Wolf, economista sênior para mercados emergentes da Aberdeen Standard Investments, em relatório divulgado nesta semana.
Se a escolha for pelo crescimento em detrimento da desalavancagem, podem haver novas injeções de liquidez e cortes adicionais na alíquota do depósito compulsório para os bancos, segundo o economista.

Malásia
O crescimento permanece robusto, mas a desaceleração da inflação abriu espaço para o banco central manter a taxa básica inalterada após um acréscimo antes do esperado em janeiro. A retirada de um imposto de 6 por cento sobre o consumo – promessa central da campanha do novo governo – pode conter ainda mais o avanço dos preços.

Indonésia
A diferença entre o rendimento do título público com prazo de dois anos (geralmente o mais sensível a mudanças na perspectiva para a política monetária) e a taxa básica de juros chegou ao maior nível desde dezembro de 2016 no dia 28 de junho, véspera da decisão surpreendente do banco central de elevar o juro básico em 0,5 ponto percentual. A instituição aumentou os juros em 1,00 ponto nos últimos dois meses para conter a depreciação cambial.

Índia
O encarecimento do petróleo e a depreciação de mais de 7 por cento da rúpia em relação ao dólar neste ano mantêm expectativas de novas decisões pelo banco central. A taxa de recompra subiu em junho pela primeira vez em mais de quatro anos.

Tailândia
A taxa básica de juros se mantém próxima do menor nível histórico de 1,5 por cento há mais de três anos, graças à inflação contida. Embora exista pouca pressão para elevação dos preços, aumentaram as expectativas de alta dos juros após o banco central subir projeções para crescimento econômico e inflação neste ano.

O baht acumula queda de 6 por cento em relação ao dólar nos últimos três meses e tem o pior desempenho entre as moedas asiáticas.

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