Por Ben Bartenstein.
Lições do último século sugerem que uma escalada da imposição recíproca de tarifas de importação por EUA e China pode favorecer os mercados emergentes.
Guerras comerciais instigadas pelos EUA nos últimos 100 anos geralmente coincidiram com a depreciação do dólar, muitas vezes impulsionando as moedas de nações em desenvolvimento. Isso pode ocorrer de novo, já que não há sinais de solução em Washington ou Pequim.
O dólar tende a se desvalorizar quando as tarifas entrarem em vigor porque quaisquer benefícios a fabricantes são anulados por preços mais altos e queda na demanda dos consumidores, explicou Kunal Ghosh, gestor de carteiras da Allianz Global Investors, que supervisiona aproximadamente US$ 580 bilhões. Segundo o gestor, no longo prazo, a situação comercial também pode reduzir o papel do dólar como moeda de reserva global, afetando seu valor.
Ghosh, que trabalha em San Diego, na Califórnia, entende que tarifas adicionais provavelmente causariam quedas iniciais motivadas por pânico em mercados emergentes, mas o quadro se reverteria à medida que os investidores processam as notícias.
“Ativos de mercados emergentes, por natureza, têm correlação negativa com o dólar, portanto a fraqueza da moeda americana” contribui para ganhos, ele disse.
No entanto, não falta quem duvide que guerras comerciais favoreçam os mercados emergentes. Instituições como Franklin Templeton Investments e BlackRock projetam recuperação dos ativos de risco, mas avisam que um movimento global no sentido do protecionismo é uma ameaça à perspectiva para as nações em desenvolvimento. Além disso, estrategistas de câmbio acham que forças macroeconômicas mais amplas e política monetária terão mais peso na definição da trajetória do dólar do que as disputas comerciais.
“É preciso avaliar cuidadosamente o que mais estava acontecendo durante guerras comerciais do passado”, alerta Isabelle Mateos y Lago, estrategista-chefe para múltiplos ativos do BlackRock Investment Institute (instituto de pesquisa ligada à gestora de ativos). “Em muitas ocasiões, as guerras comerciais coincidiram com – e provavelmente foram motivadas em parte por – uma recessão nos EUA, o que por si só explicaria um dólar mais fraco.”
Apesar do ceticismo, Ghosh ressaltou o que acontecia durante tensões comerciais do passado:
Lei Tarifária Smoot-Hawley (1930)
A legislação aprovada durante o governo do presidente Herbert Hoover para elevar tarifas sobre produtos agrícolas acabou prejudicando os EUA. Seu maior parceiro comercial, o Canadá, e alguns países europeus retaliaram. O valor do dólar em relação às principais moedas caiu para o menor nível em décadas. Essas disputas comerciais foram seguidas por uma das maiores mudanças no sistema financeiro internacional, em 1933, quando o presidente Franklin Delano Roosevelt retirou os EUA do padrão ouro, desvalorizando ainda mais o dólar em relação ao metal. As economias emergentes que abandonaram o ouro antes se recuperaram mais rapidamente.
Acordo do Plaza (1985)
Com o alargamento do déficit bilateral dos EUA com o Japão na década de 1980, o Congresso americano começou a debater leis protecionistas, o que levou o presidente Ronald Reagan a convocar uma reunião com os principais parceiros comerciais no Plaza Hotel, em Manhattan. Eles fizeram um pacto para depreciar o dólar em relação ao iene e ao marco alemão, que se mostrou bem-sucedido.
Tarifas sobre o aço (2002)
Quando o governo do presidente George W. Bush implementou tarifas sobre o aço, em 2002, ocorreu uma reação parecida: o dólar caiu para o menor nível em seis anos, ao passo que a União Europeia também ameaçou com taxações. As medidas foram suspensas em dezembro de 2003, mas antes disso, diversas moedas de países emergentes tiveram ganhos gigantescos.
O rand sul-africano teve a maior alta (73 por cento), seguido pelo lev da Bulgária (38 por cento) e pela coroa checa (35 por cento). A Argentina era isenta das tarifas, mas o peso desabou 32 por cento enquanto o país enfrentava o início de uma crise doméstica de dívida.
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