Por Mario Sergio Lima e Matthew Malinowski com a colaboração de Samy Adghirni, Simone Iglesias, Philip Sanders, Eric Martin e David Biller.
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, vem obtendo sucessivos avanços no combate à inflação e na agenda no Congresso, mas uma meta ainda parece distante: autonomia formal da autoridade monetária.
Há pouco mais de um ano no comando do BC, Ilan já conseguiu trazer a inflação para o menor nível em 18 anos, derrubar pela metade os juros do cartão de crédito, passar no Congresso um projeto que altera as taxas dos empréstimos do BNDES.
Seus esforços ganharam o respeito do mercado financeiro e a nova estratégia de comunicação tem auxiliado a recuperação da credibilidade do BC.
A despeito do sucesso e do caráter reformista do presidente Michel Temer, a autonomia formal, uma das medidas da agenda BC+, ainda não está nos planos imediatos do governo, segundo três pessoas com conhecimento das discussões, e poderia ter dificuldade para garantir apoio no Congresso, segundo seis parlamentares.
De acordo com as pessoas, que pediram anonimato porque as discussões não são públicas, o governo está empenhado em diversas outras frentes no Congresso, como as reformas da Previdência e tributária, além de pautas de ajuste fiscal.
A autonomia formal blindaria o BC de pressões políticas e o colocaria no mesmo patamar de independência de nações desenvolvidas e até de outros países latinos, como o México e Chile, porém encontra resistências políticas.
Na última campanha eleitoral, a presidente deposta Dilma Rousseff atacou a ideia, associando a autonomia a um aumento de poder do sistema financeiro, e há oposição ao projeto à esquerda e à direita, segundo Newton Rosa, economista-chefe da Sul America Investimentos.
Para João Augusto Castro Neves, diretor para Brasil do Eurasia Group, ainda haveria espaço para esse projeto no ano que vem, e a resistência de setores do Congresso hoje é menor do que já houve.
“Essa questão da autonomia se insere dentro do espírito reformista do presidente Temer; penso que tem voto, sim, para passar”, disse o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Fábio Ramalho (PMDB-MG).
Segundo documento interno do BC obtido pela Bloomberg, o BC acredita que um projeto de autonomia poderia ser aprovado até o final do ano que vem no Congresso.
“Essa discussão de independência formal do BC está pelo menos uns 10 a 15 anos atrasada, seria um avanço institucional importante”, disse Alberto Ramos, economista sênior do Goldman Sachs para América Latina.
“Não é um problema porque hoje não há a interferência política, mas pode ser no futuro”, disse Ramos.
O Banco Central não quis comentar.
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