Por Molly Smith.
Credores de empresas dos EUA estão abrindo mão de proteções contra a queda das taxas de juros de curto prazo para perto de zero. A decisão pode prejudicá-los quando a economia azedar.
De acordo com dados compilados pela Bloomberg, quase 70 por cento dos empréstimos concedidos no segundo trimestre a companhias com classificação de alto risco de crédito não incluíam uma proteção conhecida como piso da Libor. A provisão garante que o investidor não perca muito da receita com juros quando a Libor cai para abaixo de um nível pré-determinado, frequentemente 1 por cento. No primeiro trimestre, aproximadamente 58 por cento dos empréstimos alavancados não incluíam essa proteção. Dois anos antes, praticamente metade desses empréstimos tinha a característica.
A disposição dos investidores de abrir mão dos pisos para a Libor no mercado de empréstimos alavancados, que movimenta mais de US$ 1 trilhão, mostra que eles não se preocupam muito com a possibilidade de uma derrapada da economia derrubar os juros para perto de zero outra vez. A taxa da Libor com prazo de três meses está na casa de 2,35 por cento.
Outros segmentos dos mercados de crédito mostram exuberância similar. Por exemplo, os títulos corporativos de melhor desempenho nos EUA neste ano são os de pior classificação de risco. Os bancos estão dispostos a desistir de proteções que vêm a calhar em maus momentos.
A maior preocupação para muitos é o plano do banco central dos EUA (Federal Reserve) de continuar subindo a taxa básica de juros, o que costuma se traduzir em aumento da Libor.
Os gestores de recursos não podem se esquecer que as taxas podem virar de repente, alerta Danielle DiMartino Booth, que já foi consultora do escritório regional do Fed em Dallas e escreve artigos para a coluna Bloomberg Opinion. A curva de juros está se achatando e pode se inverter, o que geralmente sinaliza a piora da economia. Quando a curva de juros se inverteu, em fevereiro de 2000, a recessão chegou apenas 13 meses depois. O quadro representa um enorme desafio para o presidente do Fed, Jerome Powell, acredita DiMartino Booth.
“Os investidores se iludem totalmente achando que Powell vai subir os juros com mágica e maestria além do ponto de inversão sem perturbar a economia”, ela afirma.
“Todo mês aumenta a chance de o Fed começar a baixar os juros antes do esperado.”
Época da crise
Pisos para a Libor se tornaram comuns no mercado de empréstimos alavancados depois que os juros caíram para perto de zero em resposta à crise financeira, o que derrubou os pagamentos de juros em instrumentos com taxas flutuantes. O piso define um nível mínimo para a referência usada para pagamentos de juros. O investidor geralmente recebe uma margem em cima da referência.
O Fed pretende continuar elevando os juros, o que ajuda a estimular a demanda por dívidas com juros pós-fixados, como os empréstimos alavancados. Atualmente, o total em empréstimos alavancados na praça é igual ao volume de junk bonds.
Nem todo investidor está alarmado. O prazo médio de um empréstimo é de apenas três anos, portanto dificilmente os pisos serão necessários para gestores de recursos tão cedo, disse Gene Tannuzzo, gestor da Columbia Threadneedle Investments. Além disso, o plano é que a Libor seja abandonada no fim de 2021 e substituída por novas referências.
“Por que colocar um piso que não é necessário? Há tanto comprador agora, não é preciso fazer nada para conquistá-los”, ele disse. “A esta altura, pisos para a Libor podem ser considerados irrelevantes.”
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