Por Sarah McBride.
No ano passado, durante a primeira grande rodada de financiamento de sua empresa de entregas e dados, na época com três anos, a CEO da Shippo, Laura Behrens Wu, percebeu algo incômodo: fazer uma apresentação para alguma das poucas investidoras de capital de risco do Vale do Silício lhe trazia mais ansiedade do que apresentar para homens.
“Elas fazem mais due dilligence, para garantir que não vão passar vergonha”, relembrou Behrens Wu. “Talvez elas estejam ressentidas?”, perguntou ela. “Eu simpatizo com as investidoras de capital de risco, em um ambiente onde elas tentam constantemente demonstrar seu valor.”
Ela acabou arrecadando os US$ 7 milhões da rodada de investidores como Albert Wenger, da Union Square Ventures, e Jeff Clavier, da SoftTech. Embora tenha algo de dinheiro de investidoras, ele foi recebido na etapa de capital inicial, quando as pessoas costumam investir alguns milhares de dólares com um compromisso mínimo.
Analistas que lamentam a falta de mulheres nas startups do Vale do Silício atribuem boa parte da culpa aos investidores de capital de risco, que financiam principalmente empresas fundadas por outros homens. Por essa lógica, se mais mulheres trabalhassem como investidoras de capital de risco, elas encorajariam e investiriam em mais empresas fundadas por mulheres.
Uma nova análise da Bloomberg mostra que isso não necessariamente é verdade, pelo menos nas 17 maiores empresas de capital de risco. Firmas com sócias seniores financiaram empresas fundadas ou cofundadas por mulheres a uma taxa aproximadamente igual que as empresas sem sócias seniores (o grupo das 17 maiores empresas de capital de risco se baseia em aberturas de capital ou aquisições de mais de US$ 1 bilhão nos últimos cinco anos para empresas de carteira de valores com sede nos EUA que investiram nas etapas iniciais de uma startup, segundo dados fornecidos pela CB Insights. “Sócia sênior” é uma sócia que mora nos EUA e é apta para integrar o conselho e ficar com uma porção dos lucros conhecida como “carry”; como essas informações muitas vezes são confidenciais, a Bloomberg teve que utilizar os dados fornecidos pelas empresas).
O assunto é importante por causa da imparcialidade, e porque o negócio do capital de risco, dominado por homens brancos e asiáticos, poderia estar desperdiçando oportunidades de financiar mais tipos de empresas excepcionais. “Atrair e financiar os melhores empreendedores é o principal motivo” para encorajar uma boa representação das mulheres entre os investidores de capital de risco, disse Dayna Grayson, sócia de investimento da NEA.
Ao contrário de Grayson, a maioria das sócias das maiores empresas financiam poucas, ou nenhuma, companhias fundadas por mulheres. Em muitos casos, isso ocorre porque as sócias são relativamente novas, contratadas nos últimos 18 meses, como no caso de Benchmark, Founders Fund e Sequoia Capital.
Mas em alguns casos, talvez as mulheres estejam tão preocupadas com não parecer parciais que se abstêm de fazer bons investimentos. Algumas investidoras disseram que pensavam muito no gênero nas apresentações. Uma delas, que pediu para não ser identificada devido à sensibilidade do assunto, descreveu a suposição angustiante de que se uma mulher financiasse uma firma liderada por outra mulher, isso chamaria uma atenção exagerada para o gênero. Ela acreditava que se a empresa fracassasse os críticos especulariam que talvez a investidora de capital de risco tenha sido excessivamente branda com a companhia em nome de sua responsabilidade em promover avanços para as mulheres.
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