Por Marvin G. Perez.
O clima seco em todas as regiões produtoras de café está começando a diminuir as perspectivas para a safra deste ano e forçando os investidores a reduzir suas apostas de que os preços vão cair.
Estão prognosticadas chuvas abaixo da média para os próximos 10 dias no estado do Espírito Santo, uma região que viu queda nos rendimentos nos últimos dois anos, de acordo com o MDA Weather Services. Na Colômbia, as áreas cultivadas receberam apenas 10 por cento da precipitação normal durante os últimos 30 dias. O Brasil e a Colômbia são os principais produtores do mundo de café arábica.
Os preços se recuperaram quase 5 por cento depois de terem atingido o menor valor em dois anos no mês passado. O persistente fenômeno do El Niño está gerando condições secas em um momento em que os estoques no Brasil, o maior exportador, já estão se esgotando. Ao mesmo tempo, o Departamento de Agricultura dos EUA prevê que a demanda mundial vai aumentar e atingir um recorde nesta temporada. Hedge funds e outros especuladores reduziram suas apostas pessimistas pela primeira vez em três semanas.
“O café é uma das commodities que têm uma demanda muito sólida, e seu preço depende, em certa medida, de como andam as colheitas”, disse Frances Hudson, estrategista temática global da Standard Life Investments, que administra US$ 393 bilhões, em Edimburgo. Embora o El Niño tenha ocorrido durante a maior parte do ano passado, “seu impacto será sentido por mais algum tempo”, disse ela.
Retrocesso do pessimismo
O café arábica subiu 0,3 por cento na semana passada para US$ 1,1635 a libra na ICE Futures dos EUA em Nova York. Os preços subiram durante seis sessões consecutivas na quinta-feira, a recuperação mais longa desde junho. A posição vendida em futuros e opções diminuiu para 23.251 contratos na semana encerrada em 26 de janeiro, de acordo com dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA divulgados três dias depois. Na semana anterior, haviam 25.319 contratos.
O arábica é cultivado principalmente na América Latina e é elaborado por empresas especializadas, como Starbucks. Os grãos do robusta, usados no café instantâneo, são plantados na Ásia, na América Latina e em partes da África.
É possível que a produção global fique 3,4 milhões de sacas abaixo da demanda na temporada 2015-16, disse em janeiro a Marex Spectron, uma corretora com sede em Londres. O déficit é maior que a estimativa feita em novembro, de 2,79 milhões de sacas. Uma saca pesa 60 kg (132 libras).
Os estoques do Brasil vão cair entre 4 milhões e 6 milhões de sacas, estima o Conselho Nacional do Café. É quase uma baixa recorde. As ofertas devem diminuir porque a produção nacional não foi grande o suficiente para atender à demanda doméstica e de exportação, afirmou Paulo André Colucci, porta-voz do grupo com sede em Brasília, na semana passada, em mensagem enviada por e-mail.
Os estoques estão caindo em outros lugares também. As reservas nos armazéns monitorados pela ICE Futures caíram para o nível mais baixo desde 2012. Os preços altos estão desencorajando os fornecedores a entregar grãos para a Bolsa, disse Hernando de la Roche, vice-presidente sênior da INTL FCStone em Miami.
Tendência invertida
A situação de aperto no abastecimento é o inverso do que aconteceu em 2015. Os preços do café caíram 24 por cento no ano passado, a maior queda anual desde 2012. A desvalorização das moedas do Brasil e da Colômbia estimulou os produtores a vender os estoques e aumentar as remessas, o que trazia dólares em troca. O declínio das moedas locais também está reduzindo os custos de produção e permitindo que os agricultores aumentem o uso de fertilizantes e outros aditivos.
Embora a notícia da redução da oferta, inclusive na Colômbia, possa ajudar a conter o declínio recente de futuros, a queda das moedas locais vai estimular as exportações e limitar os ganhos com os preços, disse Gillian Rutherford, que ajuda a administrar cerca de US$ 13 bilhões como gerente de portfólio de commodities da Pacific Investment Management, em Newport Beach, na Califórnia.
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