Por Ben Bartenstein e Daniela Guzman.
Após dois anos de ganhos quase ininterruptos nas moedas de países emergentes em relação ao dólar, é hora de mudar a estratégia.
Para participantes do mercado, a queda de 16 por cento do dólar em relação a uma cesta de moedas dessas nações desde janeiro de 2016 talvez tenha ido longe demais. O último dado de inflação na maior economia do mundo intensificou essa preocupação, pois pode dar ao banco central (Federal Reserve) mais justificativas para apertar a política monetária. Paralelamente, o crescimento econômico na Europa e no Canadá prejudicou o dólar, que pode estar no ponto para uma recuperação.
Isso não significa que a valorização nos mercados emergentes tenha terminado.
Sinais de que a demanda da China por matérias-primas se manterá robusta e a melhora nos déficits em conta corrente de diversos países, incluindo Índia e Gana, sugerem que essas economias podem continuar se expandindo rapidamente, sustentando suas moedas.
“A tendência de alta nas moedas de mercados emergentes ainda está apenas no começo”, disse Anders Faergemann, gestor sênior de fundos da PineBridge Investments, em Londres, que supervisiona aproximadamente US$ 80 bilhões globalmente e está diversificando a captação do dólar para o euro e a coroa sueca. “Considerando a perspectiva atual de crescimento e inflação, investidores de longo prazo deveriam usar a potencial força do dólar para reavaliar suas exposições.”
Para o gestor de recursos Paul McNamara, que supervisiona US$ 8,6 bilhões em dívidas de países emergentes na GAM UK, em Londres, também é hora de começar a usar outras moedas de financiamento, incluindo euro e dólares australianos e canadenses.
Ele entende que nenhuma moeda de nação em desenvolvimento está “superbarata e superatraente” após dois anos de ganhos, mas que algumas transações ainda são vantajosas. McNamara está focando no real, na rúpia da Indonésia e no ringgit da Malásia.
Na avaliação dele, a moeda brasileira se beneficiará da melhora do balanço de pagamentos e do crescimento econômico, ao passo que a moeda da Indonésia proporciona rendimento elevado e sua trajetória de crédito se renovou. No caso da Malásia, o saldo comercial é sólido e o ativo ainda está barato.
A analista Lucy Qiu, do escritório central de investimentos do UBS Wealth Management, responsável pela estratégia aplicada a US$ 2,2 trilhões em ativos, recomenda o uso do dólar de Cingapura para compra das moedas de Indonésia e Índia. O espaço para valorização da moeda de alto rendimento do Estado-nação parece limitado pela postura do banco central, enquanto Índia e Indonésia tendem a se beneficiar da melhora das contas externas e do aumento de suas reservas cambiais, ela disse.
Qiu prefere trocar o rand sul-africano pela lira da Turquia, ao prever que a volatilidade política em Ancara diminuirá enquanto o plano do presidente Jacob Zuma para uma “transformação econômica radical” será questionado durante a conferência da liderança do Congresso Nacional Africano, em dezembro.
McNamara também está cauteloso em relação ao rand por motivos similares. Mas a maior questão dele é o fortalecimento do dólar, que causaria problemas desproporcionais para o peso mexicano e moedas da Europa Central, como a República Checa. Depois de estudar pesquisas de posicionamento, dados de opções e outras variáveis técnicas, ele não vê grande possibilidade de continuidade da queda do dólar.
“Os números nos EUA simplesmente não são tão ruins”, argumentou McNamara. “Nossa maior preocupação é o que pode dar errado a partir daqui. O mundo todo detesta o dólar no momento e isso nos preocupa um pouco.”
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