Por Isis Almeida
No universo dos derivativos, predomina a entrega física de produtos como trigo e soja. Mas a liquidação desses contratos usando apenas dinheiro vivo está ficando mais disseminada.
Bolsas de commodities que pretendem aproveitar a expansão das transações com produtos agrícolas estão seguindo os passos do mercado de energia e optando por contratos futuros liquidados apenas com a transferência da posição em dinheiro — e não com a entrega de fato dos produtos. A CME Group, maior bolsa de derivativos do mundo, anunciou nesta semana o lançamento de opções para grãos do Mar Negro com base em preços fornecidos pela S&P Global Platts. A Euronext estuda contratos futuros liquidados em dinheiro envolvendo trigo para produção de massa e cevada usada como ração animal.
A decisão desafia a predominância dos contratos com entrega física, que embutem o risco associado à movimentação da commodity. Também é mais fácil elaborar produtos liquidados com dinheiro porque as bolsas não precisam fazer acordo com armazéns. CME e Intercontinental Exchange já liquidam milhares de contratos de energia e metais com dinheiro usando dados de agências de reporte de preços. Agora, a tendência começou a ganhar fôlego na agricultura.
“Os mercados agrícolas têm sido mais lentos na adoção dessa abordagem”, conta Jeffry Kuijpers, diretor executivo de commodities agrícolas da CME. “Em parte porque existia a percepção de que os contratos liquidados com dinheiro não funcionavam e em parte porque, no passado, não havia bons índices disponíveis. Produtos do Mar Negro provam que estão disponíveis e agora são mais confiáveis.”
Distribuição de preços
A migração para contratos liquidados com dinheiro ficou mais fácil nos últimos anos porque as agências que informam preços se interessaram por produtos agrícolas. A Platts entrou em 2012 após adquirir a empresa de pesquisas em açúcar e biocombustíveis Kingsman e em seguida expandiu para o segmento de grãos. Ex-funcionários da Platts fundaram recentemente a AgriCensus para sondar preços de grãos e oleaginosas.
“Identificamos o potencial para essa migração no mundo da agricultura e a necessidade de avaliação de preços”, disse Andrew Goodwin, diretor-gerente da AgriCensus. “O mercado agrícola provavelmente seguirá o caminho de desenvolvimento dos mercados de energia em termos de negociação de contratos, então basta observar a negociação de contratos de energia para imaginar como será o futuro.”
Na CME, a negociação de contratos de milho e trigo do Mar Negro, iniciada em dezembro, vem se intensificando. A entrega física de contratos futuros de trigo da região não atraiu interesse quando lançada, em 2012. Na ocasião, temia-se que a instabilidade na região — incluindo proibição de exportações — ameaçasse a entrega dos produtos e havia dúvidas sobre se os compradores receberiam os grãos na Rússia, Ucrânia ou Romênia.
“Para o Mar Negro, foi uma boa solução por causa dos riscos na execução”, disse Andrei Agapi, gestor de agricultura da Platts para a região Ásia-Pacífico, se referindo aos contratos futuros da CME liquidados com dinheiro. “Era uma solução de melhor implementação e funcionou otimamente.”
É provável que demore para o mercado adotar plenamente os contratos liquidados com dinheiro. Muitos argumentam que os contratos futuros precisam ser conectados ao mercado físico via processo de entrega para garantir que os mercados reais e de papéis não entrem em divergência. Para Kuijpers, da CME, futuros com entrega física ou liquidados com dinheiro podem coexistir e tendem a virar padrão.
“No Mar Negro, acho que funciona”, disse Matt Ammermann, gestor de risco para commodities da INTL FCStone. “Nos EUA, haveria obstáculos porque o país está muito acostumado à entrega física, assim como a Europa Ocidental. Mas é o mercado que vai definir isso.”
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