Maior mercado de navegação do mundo ignora guerra comercial

Por Alaric Nightingale

Alguém, por favor, pode avisar às empresas de navegação que há uma guerra comercial em andamento?

Seja pelo preço para a contratação dos gigantescos cargueiros que transportam centenas de milhões de toneladas de minério de ferro e carvão por ano, seja pelos navios menores que levam grãos, o assunto do momento são as tarifas de frete para cargas secas a granel, que estão aumentando apesar da escalada de uma guerra comercial que pode prejudicar a economia da China.

“Os operadores de frete não acreditam nisso”, disse Eirik Haavaldsen, analista de navegação da Pareto Securities em Oslo. “Eles não enxergam essa fraqueza. Eles não temem uma desaceleração da China, nem um consumo enorme dos estoques.”

São duas as principais razões pelas quais os mercados de transporte marítimo de commodities ainda não foram afetados, segundo Espen Fjermestad, que monitora as empresas donas de navios para a Fearnley Securities, em Oslo. A primeira é que até o momento a economia da China mostra resiliência e a segunda é que o comércio direto entre os EUA e o país asiático é relativamente pequeno no contexto da demanda geral por transporte de commodities.

Indicador econômico?
No ano passado, a soja foi a commodity agrícola única mais comercializada entre os EUA e a China, somando 32,9 milhões de toneladas, segundo dados do ITC Trade Map. O granel seco é o maior conjunto de cargas da indústria de transporte marítimo global e somará cerca de 5,2 bilhões de toneladas em comércio em 2018, segundo estimativas da Clarkson Research Services. O comércio marítimo total — que abarca desde petróleo e gás até produtos conteinerizados — somará pouco menos de 12 bilhões de toneladas.

O transporte marítimo de granéis secos muitas vezes é visto como um indicador econômico importante porque as cargas representam os primeiros blocos de construção da produção industrial, incluindo minério de ferro para a siderurgia, cimento para a construção de estradas e carvão para as usinas de energia. A China, alvo mais claro das tarifas comerciais aplicadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, é de longe a maior fonte mundial de demanda — e de crescimento da demanda — no que diz respeito a matérias-primas.

Investimento em infraestrutura
O otimismo dos operadores de frete pode se dar também pelo fato de eles acreditarem que a China investirá em infraestrutura física para fortalecer a economia em caso de a guerra comercial com os EUA realmente ganhar escala, o que seria positivo, pelo menos a curto prazo, para o fluxo de cargas, segundo Haavaldsen.
Pelo menos por enquanto as tarifas cobradas pelos navios menores que transportam produtos agrícolas também estão bastante imunes à disputa comercial, apesar dos sinais de que poderiam sofrer um impacto direto maior do que o mercado de granéis secos como um todo, disse.

Os navios Supramax, que normalmente têm um quarto do tamanho dos Capesize e costumam ser usados para o transporte de grãos, cobraram frete médio de US$ 10.800 por dia desde o início de 2018, as melhores tarifas desde 2011. Os contratos para 2019 têm tarifas ainda mais altas, de quase US$ 12.000.

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