Por Josué Leonel.
O governo Michel Temer já conseguiu um feito em seus primeiros 30 dias: reverter a tendência de piora das expectativas para a economia, principalmente para 2017. O presidente interino ganhou pontos junto ao mercado com nomes estrelados para a equipe econômica e ao vencer com folga votações no Congresso.
Por ora, o investidor tem reagido mais à expectativa de aprovação das reformas do que às reformas propriamente ditas, que ainda não começaram a ser aprovadas, diz Mauricio Molan, economista do Banco Santander. Os empresários querem “algo concreto” para ampliar a aposta na retomada do crescimento, diz o economista.
Veja os principais prós e contras em um mês do governo Temer:
Pontos favoráveis:
1) Equipe econômica: Henrique Meirelles na Fazenda, Ilan Goldfajn no BC, Pedro Parente na Petrobras e Maria Silvia Bastos Marques no BNDES formam um “time de Pelés”, segundo o economista Nathan Blanche, da consultoria Tendências. Os quatro têm experiência tanto no governo quanto no setor privado e mostram que Temer não compartilha a resistência mostrada por Dilma a nomes egressos do mercado.
2) Articulação política: Enquanto Dilma vinha enfrentando dificuldades para passar no Congresso mesmo propostas que exigiam baixa votação, Temer conseguiu aprovar a DRU, que desvincula gastos do orçamento, com elevada margem na Câmara. Da mesma forma, a nomeação de Ilan passou no Senado com folga.
3) Propostas de reformas: as propostas do novo governo fazem parte da agenda de reformas que a maioria dos analistas do mercado considera crucial para estabilizar a dívida, permitindo a queda dos juros e a retoma do crescimento. Entre essas reformas, destaca-se a da Previdência e a fixação de um teto de gastos, além da trabalhista.
4) Expectativa para o PIB: refletindo uma volta inicial da confiança dos investidores, a projeção do mercado para o PIB do ano que vem subiu para 1%, após em abril cair para até 0,2%. Para 2016, a melhora é limitada, mas o mercado já vê uma recessão um pouco menos profunda no ano. O Santander prevê um leve crescimento no terceiro trimestre, de 0,5% sobre o trimestre anterior.
Pontos de dúvida:
1) Resistência às reformas: aprovar a reforma da Previdência é um grande desafio. O governo FHC, por exemplo, perdeu a votação sobre a idade mínima em 1998 por um voto. Hoje, há sinais de um maior consenso no Congresso sobre mudanças, mas o governo Temer deve enfrentar resistência forte de sindicatos e movimentos sociais.
2) Inflação: Ao contrário do PIB, as expectativas de inflação não tiveram qualquer melhora relevante. Para 2016, houve até uma pequena piora após os índices acima do previsto em maio. Para 2017, a projeção do IPCA ficou estável em 5,5%, mas este ainda é um número alto em relação ao centro da meta, de 4,5%. “O BC vai querer ver uma queda maior das expectativas antes de cortar juros”, diz Molan.
3) Incerteza política: O afastamento de Dilma, em 12 de maio, se refletiu positivamente tanto nas expectativas para a economia quanto nos preços do mercado, reduzindo o valor do dólar, o risco Brasil e os juros de longo prazo. Contudo, o mercado ainda aguarda a aprovação definitiva do impeachment, esperada para agosto. A Lava Jato, que segue produzindo surpresas, também continua limitando o otimismo dos investidores.
4) Cenário externo: a melhora de expectativas no campo doméstico coincide com um período de incerteza nos mercados globais. Dois fatores de risco externo são clássicos: 1) a expectativa de alta dos juros do Fed; 2) o risco de desaceleração mais forte na China. A estes dois, soma-se agora a dúvida sobre se o Reino Unido aprovará ou não a saída do país da União Europeia no referendo do dia 23.
Para ter acesso a notícias em tempo real entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.