Por Lauren Etter e Shannon Pettypiece.
O muro fronteiriço proposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, enfrenta muitos obstáculos. Um dos maiores: construí-lo sem trabalhadores ilegais.
Uma escassez de mão de obra deixou pouca gente para construir casas e fábricas na região, onde salários já estão subindo e projetos já estão sendo adiados. Agora, o plano do presidente de “construir imediatamente um muro na fronteira” vai obrigar o governo a encontrar peões lícitos para um projeto que poderia empregas milhares, senão dezenas de milhares, de pessoas. Cerca de metade dos trabalhadores da construção no Texas está ilegal e, em todo o país, 14 por cento deles não têm autorização para trabalhar nos EUA, de acordo com o Projeto de Defesa dos Trabalhadores, um grupo de Austin que defende os trabalhadores ilegais.
“Se ele for construir um muro com trabalhadores lícitos no Texas, ele enfrentará muitas dificuldades”, disse Stan Marek, CEO da Marek Brothers, uma construtora comercial de Houston. “Existe uma verdadeira escassez de mão de obra.”
O muro, cujo custo foi estimado em até US$ 25 bilhões, parece ser um dos maiores projetos de obra pública dos EUA desde a construção da represa Hoover durante a Grande Depressão. Trump, que prometeu gerar empregos investindo mais de meio trilhão de dólares em gigantescos projetos de infraestrutura, enfrentará obstáculos práticos. Embora muita gente pense que a geografia da fronteira é basicamente desértica, o terreno de quase 3.218 quilômetros inclui dunas de areia, arroios e montanhas escarpadas. Pode ser necessário construir novas estradas e fábricas temporárias de concreto para chegar às áreas mais despovoadas.
“Em geral, empreiteiras de todo o país vêm dizendo que está sendo difícil conseguir trabalhadores”, disse Ken Simonson, economista-chefe da Associated General Contractors of America (AGC). “Conseguir trabalhadores que passariam por avaliações para trabalhar em projetos do governo e depois levá-los a esses lugares, que ficam muito longe, são alguns dos vários desafios para concretizar isso.”
Favor presidencial
As companhias podem se interessar pelo trabalho de construir o muro, tanto para obter lucros quanto para se aproximar do presidente, e sempre é possível encontrar trabalhadores se a remuneração for convincente. O salário médio da construção é de US$ 28,42 por hora, 3 por cento a mais que no ano anterior — o ritmo de crescimento anual mais acelerado desde 2009, de acordo com a AGC. Os salários para trabalhadores ilegais costumam ser mais baixos, disse Simonson, mas ele não tinha um valor específico.
Muita coisa mudou no setor da construção depois da Grande Recessão, que durou 18 meses e terminou em 2009. Como o desemprego entre os trabalhadores dessa indústria era de mais de 27 por cento e a recuperação habitacional era menor que a de outros setores, 2,3 milhões de trabalhadores perderam o emprego e muitos abandonaram de vez a profissão. Trabalhadores mais jovens foram dissuadidos de entrar nesse ramo, e muitas empreiteiras e subempreiteiras fecharam as portas. A combinação entre essa redução do mercado de trabalho e a alta do mercado habitacional é a receita perfeita para a escassez de mão de obra. O desemprego no setor da construção caiu para 4,5 por cento durante o terceiro trimestre, a proporção mais baixa em uma década.
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