O curioso caso da CSN: a alta de 140% em 2016 que ninguém previu

Por Denyse Godoy, com a colaboração de Filipe Pacheco e R.T. Watson.

Fotógrafo: Pedro Lobo/Bloomberg News
 
A melhor ação de um dos mercados de ações de melhor desempenho no mundo neste ano é uma estrela cuja ascensão nenhum analista previu.

A Companhia Siderúrgica Nacional, ou CSN, a maior siderúrgica do Brasil em valor de mercado, mais do que dobrou de preço nos 100 dias desde o início das negociações em 2016. A alta foi um choque para os analistas que recomendaram a venda dos papéis no início do ano e para os detentores dos seus títulos de dívida, que se desfizeram das notas da empresa. Mesmo agora a CSN é a empresa de pior classificação no Ibovespa, com 13 recomendações de venda e nenhuma de compra, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Muitos dos motivos pelos quais os analistas estão tão pessimistas em relação à ação são os mesmos que levaram a gestora de ativos Octante a mergulhar de cabeça na CSN, disse Laszlo Lueska, sócio da empresa com sede em São Paulo que foi a maior compradora de ações da siderúrgica no primeiro trimestre. Um fundo da Octante ganhou R$ 18,5 milhões (US$ 5 milhões) com a CSN no período apostando que a renegociação de empréstimos bancários, no fim do ano passado, será suficiente para ajudar a empresa a evitar uma reestruturação de dívida mais ampla.

“A CSN melhorou o perfil de sua dívida e achamos que a empresa terá sucesso em seu plano de vender ativos a um bom preço”, disse Lueska, que ajuda a administrar três fundos na Octante. “Nós estamos mais confortáveis com as perspectivas para a empresa. Havia uma assimetria entre os riscos e os ganhos potenciais da siderúrgica”.

Em setembro a CSN postergou o vencimento de R$ 4,8 bilhões em dívidas com o Banco do Brasil e com a Caixa Econômica Federal de 2016 e 2017 para 2022. A empresa, que é a segunda maior produtora de minério de ferro de capital aberto no Brasil, também contratou bancos de investimentos como o Credit Suisse e o Bradesco para ajudá-la na venda de ativos. A CSN não respondeu a e-mails e a um telefonema com pedidos de comentário sobre sua estratégia e o desempenho de suas ações e títulos de dívida.

O refinanciamento pode ter convencido os acionistas de que a CSN é capaz de suportar uma queda na demanda em meio à pior recessão do Brasil em um século, mas os detentores de títulos de dívida ainda não se deixaram seduzir. As notas da CSN para 2020, em um total de US$ 1,2 bilhão, pouco mudaram desde o início do ano, permanecendo no nível de 48,4 centavos de dólar. Embora o valor seja maior do que o preço mais baixo em um ano, de cerca de 35 centavos, registrado em 17 de fevereiro, ainda é considerado distressed, ou de alto risco de calote.

Na terça-feira a ação subia 7 por cento, para R$ 9,6, levando sua alta no ano até ontem a 140 por cento — ou quase 170 por cento em dólares. O resultado contrasta com o ganho de 32 por cento em dólares do Ibovespa, o segundo maior entre os principais índices do mundo.

“Os investidores em ações parecem estar apostando na recuperação da empresa”, disse Cassiano Leme, sócio da Constância Investimentos, que adquiriu 27.700 ações no terceiro trimestre de 2015 e desde então vendeu os papéis. “Os investidores em títulos de dívida estão esperando para ver uma melhora real”.

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