O que o aumento da negociação Sul-Sul significa para as multinacionais

Por Gopul Shah.

P: A negociação Sul-Sul está se tornando uma parte significativa do comércio global. Quais são as oportunidades e o que elas significam para as corporações e multinacionais?

R: O grande salto da manufatura da China estimulou a cadeia de suprimentos de recursos da Austrália, Indonésia, Peru, Brasil, Oriente Médio, África Subsaaariana, Rússia e África. A negociação Sul-Sul compõe 25% do comércio global, em comparação com 10% em 1990. As oportunidades estão crescendo para as empresas, graças ao melhor acesso aos mercados e investimentos, à comunicação e ao suporte político. Os acordos bilaterais de comércio estão fortalecendo as interdependências entre os países, levando à paz e estabilidade social.

As linhas de crédito bilaterais e comerciais em moedas locais promoveram o comércio e, ao mesmo tempo, substituíram o dólar norte-americano. Isso ajuda a administrar a volatilidade do câmbio.

As agências e bancos de crédito para exportação da Ásia e os bancos do Oriente Médio estão oferecendo soluções de financiamento e gestão de risco para as empresas dos mercados emergentes e, com isso, os investimentos e as joint ventures das empresas vinculadas ao governo estão crescendo. Espera-se que o Asia Infrastructure Bank e o New Development Bank aumentem os investimentos nos mercados emergentes.

O benchmarking de preços das bolsas de contratos futuros locais e internacionais facilitou a precificação de negócios – é possível ver o aumento dos volumes de negócios nas bolsas de commodities de Dalian, Malásia, Índia e Dubai.

Os bancos oferecem financiamento para comércio e cadeia de suprimentos. Eles estão administrando os riscos de crédito e financeiros e fornecendo informações sobre estruturas legais e fiscais.

P: De que maneiras as empresas globais estão se adaptando aos mercados emergentes?

R: As multinacionais e as marcas dos mercados emergentes estão se desenvolvendo em um ritmo incrível e tendem a redefinir os padrões do comércio mundial nos próximos anos. As empresas dos mercados em desenvolvimento estão aprendendo com os mercados emergentes, mudando seus modelos de negócios e criando marcas poderosas. Infosys, Samsung, Toyota, Tata-Nano, HTC, Lenovo e Huawei ganharam participação de mercado significativa nos mercados emergentes. McDonald’s e Pizza Hut estão oferecendo soluções para atender às preferências locais e a Microsoft está fornecendo recursos em idiomas locais. Na Índia e China, as multinacionais não só se adaptaram às demandas de negócios locais, como também estão exportando produtos, talentos e tecnologia.

P: Quais são alguns dos riscos?

R: Desafios importantes ainda se mantêm. Os mercados emergentes são complexos e opacos – carregados de volatilidade, concorrência e estruturas legais e culturais diversas. Nesse sentido, existe um alto nível de risco de implementação. As relações com os governos são imprevisíveis, e a concorrência das empresas locais e de mercados desenvolvidos é intensa.

A interdependência do comércio traz consigo um risco maior de contágio e choques estrangeiros. A recente estagnação dos preços das commodities em decorrência da desaceleração do crescimento da China impactou o fluxo da negociação Sul-Sul e as atividades econômicas nas regiões produtoras de commodities, como Austrália, África e América Latina. A volatilidade do câmbio e dos preços das commodities também afetou bastante os investimentos e as exposições das empresas. A concorrência por recursos está gerando inflação, escassez e tensões geopolíticas. A urbanização em muitos mercados emergentes exerceu pressão sobre a infraestrutura e o meio ambiente.

P: Quais são algumas das maneiras de vencer esses desafios?

R: Conquistar confiança e uma marca corporativa de boa reputação garante o crescimento sustentável, atrai talentos e cria lealdade e sucesso duradouro. A reputação da corporação provém de uma visão sólida e da imagem da marca, fundamentadas pelo compromisso de cada funcionário em honrar suas obrigações, sua conformidade com os princípios orientadores e seu comprometimento com a responsabilidade social, a comunidade e o meio ambiente. O comércio do mundo moderno ainda dá grande ênfase à integridade, confiança, intercâmbio de informações, tomada de riscos, relação com diferentes culturas e sociedades e valorização das diferenças. As empresas e seus talentos terão de se preparar para administrar sistemas complexos e voláteis do ponto de vista socioeconômico, político e legal, investir em talentos e TCI e administrar consumidores exigentes em um mercado altamente diferenciado que opera 24 horas por dia, diariamente, e está distribuído globalmente. Os países de mercados emergentes precisarão de mudanças estruturais para sustentar a demanda doméstica, ou enfrentarão o risco de contágio.
 

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